sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Palavra não tem vaidade


Palavra não tem vaidade, não gosta de elogio à toa. Se maquia quando tem vontade, não quando a obrigação dá as cartas.
Romantismo é pedreira, não esse derramamento de jarro. Esse puxa-saquismo da palavra amor, que tenta seduzir pela falsidade.
Poesia amorosa é perda de uma parte sua e não um bibelô na sala. É viagem de camelo pela África, não uma ida ao shopping.
Toda “dizida” metida a amorosa que olha de esguelha o efeito das suas palavras em quem lê pode apostar: é fria
Demagogia com mulher, então, é praga. Ou você admira e se rende ao abismo e ao enigma, sem tentar dar dicas e piscadinhas
Amor é uma coisa bruta, que te derruba. E ao cair, você mergulha na doçura
Mulher é fresca, mas não frescura. É doce, mas não água-com-açúcar.E pode se tudo isso, desde que você não se meta a entendê-la, cavalgadura
Um belo dia os pássaros anunciam que podemos visitar o horizonte, que chegou até a orla para se espreguiçar.
Não lido com o amor, não é expediente. Normalmente me atrapalho. Não aprendo nunca. Sabe onde fica a dor? Moro em frente
Voltei correndo para a rua onde vivíamos. Fico por aqui, contando os pingos da chuva. Um dia apareceste do nada, molhada por um sorriso
Passei uns dias sem amor. Quando acordei, estava atirado num canto do cais. De um navio, meu coração abanava como louco
Fui dez vezes na parada de ônibus, achando que vinhas. Só desciam sapatos, nenhum pé com tua cicatriz de infância
Fechei para balanço. Não adianta insistir dizendo que ainda há tempo. Estou voando junto com quem eu quero tanto
Ali no canto, pode pegar. É o que sobrou de um relacionamento. Dois sonhos pisados, uma ametista fosca e um anel feito de cartolina.
Passe depois, então. Fico esperando. Há um banco que ninguém senta.É o do nosso encontro, quando vestias aquela blusa cor de vinho sangrando.
Nada de drama, concordo.Lágrima é fóssil de museu que ninguém visita. Vamos adotar a cara de paisagem, cheio de estrelas mortas dentro.
Vá embora, estou chorando. Nenhum amor sobrevive se houver piedade. Prefiro que me mates com teu beijo.
Joguei conchas, li as cartas, pesquisei na borra do café. Não para te decifrar, mas para adivinhar que te amo.

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