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25 dias de Fifa Fan Fest de Fortaleza trazem forró, axé, samba e sertanejo

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quarta-feira, 27 de março de 2013

NEGROS EM EXTINSÃO OU, A SAGA DA IDEOLOGIA DA INVISIBILIDADE



25 DE MARÇO: DIA DA LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS

PARTE I


 NEGROS EM EXTINÇÃO OU, A SAGA DA IDEOLOGIA DA INVISIBILIDADE:
CADÊ OS NEGROS NEGRADA

William Augusto Pereira[1]

Ser negro no Ceará não é ser descendente de ex-escravo, não é ser moreno descendente de  português ou francês,quando aqui viviam.  Ser negro é pertencer a raiz africana, cujos traços étnicos identificam a pessoa. Ser negro no Ceará é assumir uma negritude  cearense, que não é diferente da do Brasil, mas que se diferencia no modo de ser negro em uma terra que persiste em afirmar que não existe negro; é resistir contra a ideologia da invisibilidade criada pela elite do Estado do Ceará e que, ainda  hoje, é alimentada pelos ditos especialistas.

Existe uma controvérsia ou um erro histórico quanto a abolição do negro escravizado no Ceará. Alguns especialistas dizem:

 “É uma data significativa porque foi um marco no movimento abolicionista. Do ponto de vista econômico, repercutiu pouco. Mas, do ponto de vista social, é importante simbolicamente”, classifica o doutor em história social, Eurípedes Antônio Funes.
Segundo ele, mesmo o número de escravos do Ceará não chegando a 3% da população à época, a abolição repercutiu no resto do País.  (jornal o povo 25.03.2013)

Faltou a compreensão de quantas  pessoas habitavam o Ceará nesse período provincial para se entender  esse quantitativo de 3% dessa população. Sabemos através do senso de 1872 que, os escravos representavam 15,24% da população brasileira. Os estrangeiros somavam 3,8%, a maioria deles portugueses, alemães, africanos livres e franceses.
 É oportuno salientar que toda elite cearense colonial tinha escravos em suas propriedades, além da igreja e órgão oficiais, pois um escravo era um objeto como outro qualquer. Uma peça de muita serventia. Alguns deles com valor de várias cabeças de gados, portanto caro, preciso para aquela realidade no Brasil escravocrata.
Governo nenhum sanciona uma lei  sem um meritum causae, isto é, sem um mérito da causa, com objetivo justo e decisivo. Após análise e convencimentos de seus pares e decidido no parlamento. Se existiu uma causa para abolir os negros escravizados no Ceará é porque havia escravidão, e não era em percentagens pequenas como são repassadas essas informações pelos especialistas, e repetidas nas escolas e fixadas no senso comum da sociedade. A escravidão era um fato real em todo território nacional. E o Ceará não escapou dessa realidade, não.
Segundo  o professor Américo Souza que afirma:

 “O processo cearense não foi humanista. O objetivo não era libertar os escravos porque é errado escravizar. A questão era econômica. Se vivia uma crise e a Assembléia Provincial aprovou leis nas quais destinava altas dotações orçamentárias para o Estado comprar escravos dos senhores e libertá-los. É que nem o FHC (ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) salvando os bancos”, compara Souza.

Interessante  a indagação do professor  Souza, mas  entra em conflito do que afirmou Funes. Afinal de contas o fim da abolição abalou ou não, a economia provincial.
É importante saber que cinco anos antes da abolição no Ceará, que ocorreu em 1884, o estado foi acometido de uma grade seca que exterminou um terço de sua população. Estou me referindo da seca de 1877-1879, portanto, três anos de martírios, mortes, êxodo, de destruição, saques, da população do Ceará. Foram três anos seguidos sem chuva, sem colheita, sem plantio, com perda de rebanhos, venda em massa de negros escravizados para o sudeste, fugas de famílias, deixando despovoado o sertão.  Aracati com contava com  cinco mil habitantes passou a abrigar mais de 60 mil pessoas. Fortaleza converteu-se na capital do desespero: de 21 mil habitantes pelo senso de 1872 passou  a ter 130 mil habitantes. Inicia-se as favelas e guetos nesse centro urbano. A economia provincial, já estava abalada, nesse período pela crise do algodão e com a seca quase acaba por completa. O povo morre de fome. Um terço da população do Ceará é perdida na seca de 1877. Estima-se 200 mil pessoas mortas.

O censo de 1872
Em junho de 1804, os dados populacionais indicavam um contigente total de 77.369 habitantes no Ceará, com predominância de pretos e pardos (61 %) sobre os brancos (39 %) e que na sua maioria (74%) viviam na condição de livre[2]. Cerca de 70 anos depois, em 1872, a população residente no Ceará foi elevada em oito vezes o número de habitantes do início do século, chegara a 721.983 pessoas[3]. Verifica-se nesse último ano a presença absoluta e relativa dos pardos (50 % do total da população), que somados aos pretos e caboclos chegaram a 63%, perfazendo um contigente de 453.120 pessoas. Os brancos decresceram relativamente (37%), embora em termos absolutos houvessem incrementado quase na mesma proporção que da população total, pois passaram de 30.336 pessoas para 268.863.( Scripta Nova.  Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788]  Nº 94 (73), 1 de agosto de 2001)
Apesar de existir ao longo da história do negro escravizado  rebeliões, fugas e a organização de quilombos já existissem no Brasil desde o século XVI e várias rebeliões regionais já tivessem a emancipação dos cativos em pauta, uma campanha organizada só acontece nas últimas décadas do século XIX.

A questão entra na agenda institucional a partir do final de agosto de 1880, quando é fundada a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Começavam, no Parlamento, os debates sobre o projeto de libertação geral, apresentado pelo deputado pernambucano Joaquim Nabuco (1849-1910).


Uma intensa pressão popular resulta na libertação dos negros no Ceará, em 1884. Uma aguda crise na lavoura e reflexos da seca de 1877, além da ação de grupos urbanos, inviabilizaram o regime de cativeiro na região. Incentivado por esse desenlace, o abolicionismo toma ares de movimento em diversas províncias, como Rio Grande do Sul, Amazonas, Goiás, Pará, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraná.
Portanto, não dar deixar de visualizar mais de 100 agrupamentos negros ou comunidades negras espalhadas pelo território cearense.

COMUNIDADES  REMANESCENTES DE QUILOMBOS NO ESTADO DO CEARÁ[4]
MAPA SITUACIONAL DAS COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS DO CEARÁ

MUNICÍPIOS
COMUNIDADE QUILOMBOLA
INÍCIO DA OCUPAÇÃO
Nº DE FAMÍLIAS
01
Aquiraz
Catolé dos Pereiros,


Estrada Nova,


Goiabeiras,
1924

Lagoa do Ramo,


Lagoa do Mato


 Pereiral


02
Aiuaba
Zumbi


03
Baturité
Serra do Evaristo


Castelo


Bananeiras


Jordão


04
Crato
Luanda


05
Crateús
Queimadas

145
Ingá,


Poti,


Tucuns


06
Chaval
Mucambo



Coreaú - Moraújo
Timbaúba de baixo

59


Timbaúba de Cima


07
Ererê
Tomé Vieira


08
Fortaleza
Pirambu,


Mucuripe


Bom Jardim


Jardim Iracema


Paupina


Genibaú


Barra do Ceará.


09
Horizonte
Alto alegre

821
Alto Estrela

Cajueiro da Malhada

Vila Nova

Alto da Boa Vista

10
Independência
Barragem


Pelo Sinal,


Jucás


Traqueiras


11
Ipueiras
Coité


Cobras


 Sitio dos Negros


Feijão,


Pau D’arco


12
Iracema
Bastiões

400
13
Monsenhor Tabosa
Jacinto de Dentro


Mundo Novo


Lagoa dos Santos


Serra Velha


Tourão


14
Novo oriente
Barra


Barrigudinha


Bom Sucesso


Lagoa de Dentro


Mirador


Santo Antônio


Paraná


15
Pereiro
Crioulos


Trindade


16
Porteiras
Sousa


17
Pacajus
Base


18
Parambú
São Consolo


Silveira


São Roberto


Saco Virgem


Quiterianópolis


Uruburetama


19
Quixeramobim
Mearim


20
Salitre
Lagoa dos Criolos


21
Tururu
Água preta,

82
Conceição dos Caetanos


22
Tamboril
Açudinho


Torres


Possidônio,


Serra dos Mates


Santo Antônio


23
Uruburetama
Parandu







total
23 municípios
74 comunidades



 Assim, o Ceará ganha neste ano de 2013 mais um feriado do dia 25 de março. Comemora-se a Data Magna do Ceará. A Emenda Constitucional que instituiu o feriado, de autoria do deputado Lula Morais, foi aprovada pela Assembléia Legislativa em 1º de dezembro de 2011, sendo promulgada e publicada no Diário Oficial do Estado em 6 de dezembro de 2011. Quem ganha com isso foi a luta do movimento negro no Ceará, a sociedade cearense e a história do nosso povo.


[1] Teólogo, Filósofo, Membro Efetivo e Secretário da Comissão Cearense de Folclore, Coordenador de formação do Fórum da economia do Negro, pesquisado de quilombos no estado do Ceará, membro da Associação Nação Iracema
[2]  A fonte dos dados originais é Revista do Instituto do Ceará. Tomo XXIX, p.279, apresentados por Funes, 2000, p.104.
[3]  A fonte dos dados originais é o Censo demográfico de 1872 in Revista do Instituto do Ceará. Tomo XXIX, p.279, apresentados por Funes, 2000, p.105.
[4]              Centro de Defesa da Vida e Resgate da Cultura Negra no Ceará . Pesquisa coordenada pelo Prof. William Augusto Pereira.