1.
Construir um Programa de Desenvolvimento Econômico e Sustentável para População
Negra no Nordeste, requer um esforço para compreender o cenário atual do
nordeste e como foi construído as
políticas para esse território brasileiro. Necessita sim, despaginar nossas
teorias com foco para o debate sobre as políticas de promoção da igualdade
no acesso das populações negra e indígena.
Os compromissos assumidos pelo Brasil na III Conferência Mundial contra
o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada
em Durban, na África do Sul, em 2001, quando foi adotada a “Declaração e o
Programa de Ação de Durban”, que trata especificamente das políticas e práticas
de coleta e desagregação de dados, pesquisas e estudos nesta área, reforçaram
essa necessidade.
O Programa de Desenvolvimento Econômico e
Sustentável para População Negra no Nordeste deve está afinado com
os objetivos do Plano Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial- PLANAPIR[1] no tocante ao eixo1: Trabalho e Desenvolvimento Econômico que seria:
I - promover a inclusão e a
igualdade de oportunidades e de remuneração das populações negra, indígena,
quilombola e cigana no mercado de trabalho, com destaque para a juventude e as
trabalhadoras domésticas;
II - promover a eqüidade de
gênero, raça e etnia nas relações de trabalho e combater as discriminações ao acesso
e na relação de emprego, trabalho ou ocupação;
III - combater o racismo nas
instituições públicas e privadas, fortalecendo os mecanismos de fiscalização
quanto à prática de discriminação racial no mercado de trabalho;
IV - promover a capacitação e a assistência técnica diferenciadas das
comunidades negras, indígenas e ciganas;
V - ampliar as parcerias dos
núcleos de combate à discriminação e promoção da igualdade de oportunidades,
das superintendências regionais do trabalho, com entidades e associações do
movimento negro e com organizações governamentais;
VI - capacitar gestores
públicos para a incorporação da dimensão étnico racial nas políticas públicas
de trabalho e emprego;
VII - ampliar o apoio a
projetos de economia popular e solidária nos grupos produtivos organizados de
negros, com recorte de gênero e idade; e
VIII - propor sistema de
incentivo fiscal para empresas que promovam a igualdade racial
É emergente lembrar
os fatos históricos para que não se repitam as conjunturas conservadoras e sem
sentido:
No período
colonial brasileiro, a igreja católica da época teve um papel fundamental, no
sentido de constituir um grupo de idéias que facilitassem a dominação do
escravo pelo senhor. As notícias das revoltas negras na América Central e os
focos de resistência em diversas regiões do país e, especialmente, a
necessidade de ampliação dos lucros fizeram que alguns religiosos se aprofundassem na questão. Para estes, a escravidão era necessária para o
desenvolvimento do país. Um destes teóricos, o padre André José Antonil,
afirmava: “os escravos são as mãos e os pés do senhor do engenho, porque sem
eles, não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho
corrente”. (ANTONIL Cap. IX Livro I).
Em 1700, é
publicado o Texto do padre Jorge Benci, Economia Cristã dos Senhores no
Governo dos Escravos, que tinha como objetivo ensinar aos proprietários de
escravos formas para ampliar os ganhos através de uma boa administração de seus
escravos. Para Benci, os castigos deveriam ser moderados e, aos poucos. Seu
objetivo é exposto já no início do texto:
...tomei por assunto, e por empresa dar à luz esta obra, a que chamo
Economia Cristã; isto é, regra e modelo, por onde se devem governar os Senhores
Cristãos para satisfazerem às obrigações de verdadeiros senhores. Parecem que
cuidam muitos senhores que, por razão de senhorio, têm livre e absoluto domínio
sobre os servos, como se fossem jumentos; de sorte que assim como o jumento
nenhuma obrigação deve o senhor ao seu servo. Mas é engano manifesto (...)
porque também os senhores são servos dos mesmos que os servem. (BENCI, 1977,
p.43)
Segundo LINS
(2003), o padre Benci propõe uma verdadeira pedagogia para o senhor do escravo.
Com essa pedagogia, a escravidão poderia se tornar mais lucrativa. Sendo assim,
a doutrina cristã se configuraria como um fermento ideológico com o objetivo de
transformar colonos em senhores; e os escravos, em disciplinados trabalhadores.
“Haja acoites, haja
correntes e grilhões, tudo ao seu tempo e com regra e moderação devida e vereis
como em breve tempo fica domada a rebeldia dos servos? Porque as prisões e
açoites, mais de qualquer outro gênero de castigos, lhes abatem o orgulho e
quebram os brios”. (BENCI, 1977, p.50). Daí, a célebre e conhecida teoria do
colonialismo brasileiro: para o escravo, pão, disciplina e trabalho. Mas que
obrigações pode dever o senhor ao servo? O mesmo Espírito Santo no-las dirá; o
qual distinguindo no Eclesiástico o trato que se há de dar ao jumento e ao
servo. Diz-se que ao jumento se lhe deve dar o comer, a vara e a carga: Cibaria
et virga, et ônus asino, e que ao servo se lhe deve dar o pão, o ensino e o
trabalho: panis, et disciplina, et opus servo. Deve-se o pão ao servo,
para que não desfaleça, panis,ne succumbat; o ensino para que não erre,
disciplina, ne erret; e o trabalho, para que se não faça isolente, opus,
ne insolescat. (BENCI, 1977, p.50) .
A compreensão desse nordeste plural,
isolado, rico, mais ao mesmo tempo empobrecido e castigado por uma política
unilateral praticada por governos que não deram uma atenção adequada para o
nordeste brasileiro, passa por esse viés.
Por isso ele está precisando de ajuda e força política para que se una a fatia ao outro Brasil do sul e se
complete em um Brasil de fato. Poderoso, talentoso e criativo.
Em seu
discurso de posse[2], a
presidenta Dilma Rousseff definiu de forma inequívoca as linhas condutoras do seu
governo, que vem para consolidar a obra transformadora do presidente Lula. Junto com a erradicação
da pobreza extrema, terá prioridade a luta pela
qualidade da educação, da saúde e da segurança, disse a presidenta.
Todos estes são
temas caros à população negra no Brasil e convocam os movimentos sociais, em particular o movimento negro,
para fazer a sua parte com a necessária autonomia política; para potencializar e estimular o esforço
governamental a fim de [que possamos] atingir as metas estratégicas colocadas pela
presidenta Dilma.
Sabemos que a
persistência do racismo, e das desigualdades raciais por ele provocadas, resulta em ritmos mais lentos
na diminuição da miséria absoluta entre nós, retarda os efeitos dos avanços na nossa
aquisição de escolaridade, impede mudanças consistentes nos padrões de saúde da
população negra, assim como leva a que morramos mais e mais precocemente do que outros
grupos raciais. Neste contexto, ter a segurança entre as prioridades de governo, também
significa adotar novas medidas que venham a deter os homicídios entre os jovens
negros e negras, cujas taxas ameaçam o nosso futuro, a nossa possibilidade de participação
efetiva neste novo Brasil que emergiu nos últimos oito anos.
As prioridades do governo Dilma Rousseff não só
respondem a bandeiras históricas do movimento negro, como chamam nossa atenção
para os desafios que a nova configuração das relações raciais impõem à
sociedade brasileira. Um deles é o desafio de incluir em nossa experiência as
demandas de grupos historicamente discriminados, como os indígenas, “os donos
da terra”, como são chamados nas tradições afro-brasileiras, com quem já
convivíamos nos quilombos. Do mesmo modo, nos chama a incluir no esforço de
radicalização da democracia as minorias étnicas, constituídas por ciganos, árabes e judeus. São segmentos
populacionais com culturas e trajetórias históricas diferenciadas, que também
têm se somado, nos últimos anos, na construção da sociedade igualitária que
queremos.
1.1.
O
Nordeste : Um fato
A
partir da década de 1980, as migrações intra-regionais passaram a ter maior
relevância com o aumento do fluxo rural-urbano, como se pode inferir da mudança
da estrutura setorial da população e das
taxas médias geométricas de crescimento anual das populações rural e urbana,
conforme focalizado mais adiante. Acrescente-se a esse movimento populacional o
incremento do fluxo migratório ao longo do sistema hierarquizado de cidades,
isto é, dos centros locais para os subzonais, desses para os zonais, e assim
por diante, passando pelos sub-regionais, regionais, submetropolitanos e
metropolitanos. Tudo levando à concentração demográfica como um reflexo da
concentração econômica, acompanhando a mudança estrutural de uma economia de
base rural, preponderante até os anos 60 do século XX, para uma outra de
natureza urbano-industrial, atualmente dominante. De outra parte, quando se analisa a população
em relação à área territorial, observa-se que a densidade demográfica do
Nordeste é mais alta do que a do
conjunto do território nacional.
O
Nordeste vem experimentando, a partir de 1970, importantes transformações na
sua composição demográfica, tanto na sua estrutura etária como na sua
repartição setorial. A população regional está se tornando mais velha, com uma
progressiva redução relativa dos habitantes de faixas etárias mais jovens e
aumento do número de indivíduos nas faixas etárias mais velhas . Esse fenômeno
também vem ocorrendo no País como um todo, tendo começado na Região Sudeste.
Em
1970, os habitantes com menos de 10 anos de idade somavam 29,3% (14,8% dos
homens e 14,5% das mulheres), praticamente um terço da população regional, enquanto em 2000 a participação relativa
dessa faixa etária decresceu para apenas 21,3% (10,8% dos homens e 10,5% das
mulheres), isto é, pouco mais de um quinto dos moradores do Nordeste.
De outra parte, está
ocorrendo um rápido processo de urbanização, isto é, um aumento considerável da
proporção da população urbana no total dos moradores. Em 1960, 65,8% da
população do Nordeste ainda viviam no setor rural, isto é, apenas 34,2% moravam
nas áreas urbanas, mas, em 2000, a taxa de urbanização regional já era de
69,0%. Desde 1980, a região passou a ser predominantemente urbana e, em 2000,
31,0% dos habitantes permaneciam no campo.
Essa
repartição setorial é similar à que ocorreu no Brasil em 1980. Assim, mantida a defasagem de 20 anos, em
2020 é provável que o Nordeste venha a ter aproximadamente 80% de sua população
morando em cidades e vilas, restando no campo apenas 20% da sua população. Essa
tendência de urbanização aponta para a necessidade de o Plano Estratégico de
Desenvolvimento Sustentável do Nordeste conferir prioridade às ações destinadas
ao setor urbano.
O
processo de urbanização acelerada do Nordeste passou a ser ainda mais
importante a partir do período 1980-91 quando o processo de desruralização se
acentua, passando a população rural a apresentar taxas médias geométricas de
crescimento anuais negativas (-0,3% no período 1981-91, e -1,4% entre 1991 e
2000), indicando a ocorrência de um crescente processo de esvaziamento
populacional do campo .
O
fato é que o rápido crescimento populacional das cidades do Nordeste, nos
últimos anos, ocorreu de forma
desordenada, com a maior parte dos imigrantes com baixos índices de
escolaridade e sem capacitação profissional para o trabalho urbano. Além disso,
na grande maioria das cidades, o processo de urbanização foi dissociado de
crescimento econômico, ao menos no mesmo ritmo, o que, juntamente com o
despreparo da mão-de-obra, vem provocando aumento nas taxas de desemprego e
subemprego urbano, com conseqüentes reflexos negativos na qualidade de vida das
populações urbanas.
1.2.
Tendências sociais
O
modelo econômico e as constantes crises por que tem passado o sistema produtivo
nacional causaram descompasso entre a evolução dos indicadores das atividades
econômicas e das variáveis sociais, em todo o País. O Nordeste, embora tenha melhorado
substancialmente seus indicadores sociais a partir dos anos 60, ainda se
encontra muito distante do que seria aceitável, em termos dos parâmetros
preconizados pelos órgãos internacionais. Além disso, as variáveis sociais da
região ainda apresentam valores abaixo dos estimados para quase todas as
macrorregiões do Brasil.
Segundo,
Rocha (2006:03), destacando sobre a relação racismo e relação social e
econômica no estado brasileiro compreende:
Como primeiro elemento
norteador destaca-se o entendimento do racismo como um fenômeno social presente
nas relações sociais no país. Embora haja, historicamente, ações no sentido de
negá-lo, o seu entendimento torna-se um dado necessário para a compreensão das
raízes das desigualdades econômicas e sociais da sociedade brasileira. Outro
elemento não menos importante é a visão de que a dinâmica da desigualdade
racial deve ser entendida na sua relação com a dinâmica da luta de classes,
tendo em vista a visão do racismo enquanto subproduto da forma capitalista de
organização da sociedade. O racismo, como o conhecemos nos dias de hoje, é um
fenômeno criado a partir do interesse de dominação e expansão do capitalismo
mundial. ( Políticas afirmativas e educação: a Lei 10.639/03 no contexto das
políticas educacionais no Brasil contemporâneo. Tese de mestrado. Luiz Carlos
Paixão Rocha.p. 03).
Contudo,
é inquestionável que alguns indicadores sociais da região registraram
significativos desempenhos, entre 1960 e 2003. A taxa de mortalidade infantil,
por exemplo, foi reduzida de 154,9 por mil nascidos vivos para 41,7 por mil; a
taxa de analfabetismo diminuiu de 59,3% para 23,2%, e a esperança de vida do
nordestino aumentou de 43,5 para 66,7 anos. No entanto, quando se faz a
comparação com os mesmos indicadores do Brasil, constata-se que, apesar da
melhoria das condições sociais do Nordeste no período de 42 anos, ainda há uma
considerável defasagem, tanto que a taxa de mortalidade infantil do Brasil, em
2003, é de apenas 35,4 (contra 41,7) por mil nascidos vivos; a taxa de
analfabetismo do País é de somente 11,6% (contra 23,2%) dos que têm 15 anos ou
mais e a esperança de vida chega a 71,3 (contra 66,7) anos.
Segundo
o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil (IPEA/PNUD, 2003), o Nordeste, em
2000, era a região brasileira de IDH mais baixo do País, uma vez que todos os
seus nove Estados se encontravam entre os dez últimos do rol decrescente dos
índices . O único Estado da federação que também fazia parte desse conjunto e não
pertence ao Nordeste era o Estado do Acre que ocupa a 21ª posição.
No
que pese o fato de o Nordeste ainda ser, dentre as cinco macrorregiões
brasileiras, a de IDHM mais baixo (0,682 em 2000, estimado pela mediana dos
nove estados nordestinos), há de se considerar, por outro lado, a considerável
redução da diferença para o IDHM do Brasil (0,776 no mesmo ano), dado que em
1970 o índice para a região era de apenas 0,299 e o do País como um todo
alcançava o valor de 0,494 .
Por
sua vez, os indicadores de saneamento básico também registraram substancial
melhoria. Tanto que o percentual de domicílios urbanos com canalização interna
de água passou de 70,6% em 1970, para 83,3% em 2003; a rede coletora de
esgotamento sanitário, que servia somente a 19,3% dos domicílios, em 1970,
passou a atender a 34,7%, em 2003; e o percentual de domicílios urbanos com
coleta de lixo passou de 56,2% para 74,4%, no mesmo período (Gráfico 15).
Embora o Nordeste tenha reduzido as diferenças dos indicadores de saneamento
básico em relação ao País como um todo, no período 1970-2003, ainda está longe
de alcançar o padrão nacional de 89,6% de domicílios servidos por rede de
abastecimento de água, em 2003; 55,3% de domicílios ligados à rede de
esgotamento sanitário; e 88,6% de domicílios com coleta de lixo.
Assim,
no que pese a melhoria dos indicadores sociais e das condições de saneamento
básico, inclusive em ritmo mais rápido do que o do Brasil como um todo, as
diferenças de qualidade de vida entre o Nordeste e as demais macrorregiões brasileiras
ainda são muito grandes. Portanto, ainda se faz necessário um esforço
relativamente maior de investimentos no Nordeste, sobretudo nas áreas sociais –
com destaque para educação e para as atividades geradoras de emprego e renda –,
bem como em infra-estrutura – principalmente em saneamento básico e transportes
–, para que esta região alcance o padrão nacional de desenvolvimento.
1.3
Tendências econômicas
A
economia nordestina desde os anos 60 vem acompanhando o dinamismo da economia
nacional, chegando a superar a expansão da economia nacional em alguns anos de
sua evolução. As estimativas do produto interno feitas pela SUDENE, para o
Nordeste, complementadas com estimativas da FGV e IBGE feitas para a economia
nacional, mostram que, se nos anos 60 a região registrou uma expansão bem menor
(3,5% contra 6,1% para o Brasil), nos anos 70 apresenta uma taxa um pouco maior
(8,7% contra 8,6%), repetindo a diferença nos anos 80 (3,3% contra 1,6%) e nos
anos 90 (3,1% contra 2,&%), já no contexto de desaceleração da economia
nacional.
Desse
comportamento pode-se assinalar que, nas fases de vigência dos principais
instrumentos de política regional e setorial de desenvolvimento, o Nordeste
respondeu com um crescimento de sua
economia, que significou não só expansão das atividades produtivas como
mudanças relevantes na sua estrutura econômica. As informações da SUDENE sobre
o produto, que permitem uma visão da trajetória da economia regional no longo
prazo, mostram que se na década de 70 os serviços registravam metade
(exatamente 50%) do produto total, nos anos 80 eles alcançavam 55% e nos anos
90 superaram a marca dos 60%. Tal participação ocorre em detrimento, sobretudo,
da atividade agropecuária que, nas respectivas décadas, passa de 22,8%, para
15,6% e, finalmente, alcança 13,3%. Mais complicada foi, de acordo com os dados
da SUDENE, a trajetória do setor industrial, constituído pela indústria
extrativa e de transformação, pela construção civil, pelos serviços de
utilidade pública. Neste caso, a indústria registra uma participação de 27,2%
nos anos 70, cerca de 29,2% nos anos 80, caindo para 20,8% nos anos 90.
O
exame mais detido dos grandes setores produtivos mostraria, igualmente, a
ocorrência de algumas mudanças de peso na economia regional. Na agropecuária,
vale o registro do surgimento e consolidação da moderna agricultura irrigada e,
em parte, voltada para a exportação, além da produção moderna de grãos, que se
estende pelo oeste baiano e em parte considerável de território do Piauí e
Maranhão.
Na
indústria regional, notadamente a indústria de transformação, a consolidação da
indústria petroquímica, da produção de papel e celulose, da produção mais
recente de veículos e de segmentos de material elétrico e comunicações, além de
modernos empreendimentos voltados para a produção de têxteis, constituem
exemplos de mudanças que ocorreram nas últimas décadas.
Relativamente
ao terciário, mesmo no contexto de uma pequena expansão econômica da região,
deve-se ressaltar o aparecimento e consolidação de importantes atividades de
serviços, algumas das quais se constituíram, nos centros urbanos de maior
porte, pólos e cadeias produtivas bastante complexas. Os exemplos dos serviços
mercantis de saúde e de educação, das atividades de varejo moderno (hiper e
supermercado, shopping-center, loja de departamento, loja de conveniência
etc.), dos serviços de logística, dos serviços de assessoria, planejamento e
consultorias e, sobretudo, dos serviços associados ao turismo ilustram as
transformações ocorridas nos centros urbanos regionais. Além das mudanças na
estrutura do produto interno, a economia regional apresenta significativas
transformações na pauta das suas exportações. Para que se tenha uma idéia
dessas transformações, é suficiente assinalar-se que ocorre uma presença cada
vez maior da exportação de produtos industrializados em detrimento dos chamados
produtos básicos. Se em 1980 o Nordeste registrava cerca de 54,2% do total das
exportações constituído por produtos básicos, em 1990 sua participação diminui
para 24,7%, para alcançar 18,3% em 2000. Já os produtos industrializados
exportados pela região passaram, no total das exportações, nos referidos anos,
de 45,1% para 75% e para 79,9%. Tais mudanças ocorrem, também, no interior de
cada uma dessas grandes categorias, sobretudo, mais recentemente, quando
produtos como veículos, petroquímicos, papel e celulose, metalúrgica, material
elétrico e de comunicações passam a fazer parte da pauta de exportações. É importante ressaltar, sobretudo nos anos 60
e 70, a modernização da infra-estrutura econômica, notadamente a de transporte
e de produção e distribuição de energia elétrica – que constituiu a base sobre
a qual a economia nordestina cresceu e diversificou sua estrutura produtiva, à
época. Não obstante tais registros relacionados com as grandes mudanças, é
importante destacar que a economia regional acompanhou, nas duas últimas
décadas, a desaceleração ocorrida na economia nacional. O término do intenso
processo de industrialização do País, a partir da substituição de importações,
a crise fiscal e financeira do setor público, a abertura da economia nacional a
partir dos anos 90, além das seguidas políticas restritivas que foram
implantadas em sucessivas administrações, definiram uma trajetória econômica
que se caracterizou, no Brasil e no Nordeste, por um crescimento muito reduzido
e instável, como se assinalou.
1.4.
Inserção
na economia internacional e interregional
Análises
recentes[3]
assinalam que a economia nordestina vem perdendo posição relativa tanto no
comércio internacional do País como nas trocas entre as regiões brasileiras.
No
que se refere ao comércio internacional, as informações do Gráfico 16 mostram,
para o longo prazo (1964-2004), a perda, em termos relativos, que o Nordeste
teve no tocante às exportações, quando passou de uma participação, no total das
exportações brasileiras, de 15,6% em
1964, 13,9% em 1970, 17% em 1975, 9,1% em 1995, 7% em 1999, e para 8,3% em2004.
Com relação ao saldo comercial (exportações menos importações), a região perdeu
gradativamente o saldo positivo que mantinha (US$ 1,8 bilhão, em 1990, e US$
0,7 bilhão, em 1995) para em seguida registrar déficit sistemático.
No
que se refere ao comércio com as demais regiões brasileiras, para o qual a
disponibilidade de informações é mais precária, o que o estudo do
SEPRE-IPEA-INAE-IICA assinala é que entre meados dos anos 70 e início dos anos
90 reduziram-se, em termos reais, tanto as exportações quanto as importações:
as exportações decresceram de 11% do produto, em 1975, para 5,6%, em 1991. Já
as importações inter-regionais teriam registrado uma redução de 30% para 11%.
As
conclusões do primeiro dos estudos referidos podem ser resumidas na constatação
de que o Nordeste “caminhou nas últimas décadas em direção ao insulamento
econômico”. O que está, certamente, associado ao quase desaparecimento, da
pauta de exportações, de importantes e tradicionais produtos (algodão, cacau),
além da perda de competitividade nos mercados extra-regionais. Além do fato de
que os novos e promissores segmentos produtivos, que mais recentemente
participam da pauta de exportação da região, ainda não têm peso suficiente, no
total das exportações regionais, para mudar significativamente a trajetória das
vendas para o mercado mundial e o das demais regiões brasileiras. De fato,
embora não se possa deixar de assinalar que o Nordeste vem, tanto no mercado
internacional como no interregional, diversificando a sua pauta de exportações,
com o surgimento de novas atividades industriais (automóveis, papel e celulose,
petroquímicos) e produtos primários (grãos), devese ressaltar que a presença de
tais produtos não foi suficiente para compensar a perda que a região teve com a
redução e desaparecimento, na sua pauta, de produtos primários tradicionais que
representavam parcela relevante das suas exportações.
1.5.
Mercado
de trabalho
Neste contexto de reduzido
crescimento da economia regional, é inevitável, na ausência de significativas
políticas compensatórias de emprego e renda, a deterioração das condições de
trabalho na economia nordestina que, neste particular, acompanhou a trajetória
da economia nacional. Vale a advertência de que mudanças ocorridas na
metodologia no que se refere às pesquisas e aos levantamentos sobre o mercado
de trabalho dificultam acomparação das informações no médio e longo prazos. Por
esse motivo as informações utilizadas se limitam a um período mais recente que
o considerado nas demais questões analisadas.
Antes de passar ao exame
mais detido dos processos que ocorreram no mercado de trabalho na região é
importante considerar alguns dados sobre a dimensão e significado da força de
trabalho e da população ocupada no Nordeste (Tabela 1).
Tabela 1 – Nordeste: Indicadores do
Mercado de Trabalho – 1992-2003
População
Economicamente Ativa Em 1.000 pessoas Taxa anual Participação e População
Ocupada
|
Em 1000 pessoas
|
Taxa anual
|
Participação
|
1992
|
2003
|
1992
|
2003
|
1992-2003
|
|||
População Economicamente Ativa
|
19.830
|
23.956
|
1,7
|
|
|
População Ocupada
|
18.607
|
21.667
|
1,4
|
100,0
|
100,0
|
Agrícola
|
8.182
|
8.069
|
(0,1)
|
44,0
|
37,2
|
Setor Industrial
|
2.516
|
3.106
|
1,9
|
13,5
|
14,3
|
Indústria de transformação
|
1.355
|
1.828
|
2,8
|
7,3
|
8,4
|
Construção civil
|
905
|
1.115
|
1,9
|
4,9
|
5,1
|
Outras indústrias
|
256
|
162
|
(4,1)
|
1,4
|
0,7
|
Setor Terciário
|
7.685
|
10.430
|
2,8
|
41,3
|
48,1
|
Comércio
|
2.130
|
3.506
|
4,6
|
11,4
|
16,2
|
Serviços (exceto administração púb.)
|
4.793
|
5.918
|
1,9
|
25,8
|
27,3
|
Administração pública
|
762
|
1.005
|
2,5
|
4,1
|
4,6
|
Atividades mal definidas
|
224
|
62
|
(11,0)
|
1,2
|
0,3
|
Desocupados
|
1.223
|
2.289
|
5,9
|
|
|
Taxa de desemprego (%)
|
6,2
|
9,6
|
|
|
|
Fonte: IBGE - PNAD (microdados)
Em
2003, o IBGE, através da PNAD, registrava no Nordeste a presença de
aproximadamente 23,9 milhões de pessoas que constituíam a população
economicamente ativa ou força de trabalho. Deste total, cerca de 21,7 milhões
estavam constituídos pela população ocupada, incluída nesta, de acordo com a
nova metodologia do Instituto, os trabalhadores vinculados à produção para o
próprio consumo e os que exerciam atividade na construção para o próprio uso.
Mesmo com esta definição mais ampla de pessoas ocupadas, a desocupação,
considerando a diferença entre a população economicamente ativa e a população
ocupada, compreenderia, no referido ano, cerca de do 2,3 milhões de pessoas, o
que significaria uma taxa de desocupação 8,7% da população economicamente
ativa.
A
evolução recente dos indicadores do mercado de trabalho mostra que a população
economicamente ativa registrou um crescimento (1,7% ao ano) maior que a
população ocupada (1,4%), do que resultou um aumento significativo dos
desocupados (5,9%), com uma taxa de desemprego (segundo o critério da PNAD)
passando de 6,2% em 1992 para 9,6% em 2003. Neste período, o número de
desocupados praticamente duplicou.
Vale
destacar no mercado de trabalho nordestino a presença ainda marcante do
contingente ocupado nas atividades agropecuária, embora a região, há décadas,
registre o declínio da ocupação no meio rural. Em 2003, esse contingente
alcançava cerca de 37,2% do total das pessoas ocupadas. O terciário vem-se
constituindo a grande fonte de geração de emprego: no primeiro ano considerado,
empregava 41,3% do total da população ocupada, e em 2003 o percentual alcançava
48,1%. O setor industrial tem uma pequena participação no conjunto das pessoas
ocupadas na região e registra um aumento pouco significativo no período (passa
de 13,5% para 14,3%).
O
mercado de trabalho na região é marcado, também, pela precariedade das relações
de trabalho, expressa na presença do trabalhador sem cobertura previdenciária e
sem cobertura da legislação trabalhista. No meio rural, a presença do
trabalhador que não recebe remuneração, geralmente membro da família, além do
trabalhador voltado predominantemente para a produção para o consumo próprio e
do trabalhador sem carteira assinalada mostra as formas precárias existentes no
trabalho na agricultura regional. No que se refere às atividades
predominantemente urbanas, o que se destaca é não somente o alto grau de
informalidade[4]
das relações de trabalho como o fato de que no período recente o percentual de
pessoas que podem ser classificadas como submetidas a relações informais tem
aumentado.
Um
exercício que considere como informal a pessoa ocupada constituída de
trabalhador sem carteira assinada, de empregador e conta própria sem cobertura
previdenciária, nas atividades predominantemente urbanas (setores industrial e
terciário),mostra que mais de 57% das pessoas ocupadas estariam na
informalidade no Nordeste urbano em 1992 e 2003, com uma ligeira tendência de
aumento no período (de 57,1% em 1992 para 57,6% em 2002) (Gráfico 17). Em
termos absolutos, as pessoas que poderiam ser classificadas como informais nos
setores industrial e terciário teriam passado de 5,9 milhões, em 1992, para 7,8
milhões, em 2003. Neste intervalo, ocorreu, portanto, nas atividades
predominantemente urbanas, um acréscimo de 1,9 milhão de pessoas. Nas
atividades formais, o acréscimo estimado foi de 1,2 milhão.
Estudo
recente sobre os anos 90[5]
já confirmava tais aspectos e mostrava outras questões que devem ser aqui
ressaltadas. Vale lembrar que as tendências gerais que se observam no Nordeste
repetem-se, em seus traços gerais, em todo País em seu conjunto e nas
principais regiões brasileiras. Nos anos 90, pois, não só a oferta de ocupação
não foi suficiente para atender o contingente da população que procurou
trabalho, como algumas tendências que indicam dificuldades crescentes para os
trabalhadores foram detectadas. Um primeiro, já assinalado, refere-se ao
aumento da precariedade do mercado de trabalho, que se percebe pela trajetória
de vários indicadores:
(i)
a redução da participação dos trabalhadores
assalariados, com carteira de trabalho assinada, no total das pessoas ocupadas;
(ii)
o fato de
o emprego formal ou organizado, registrado pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, nos anos 90 apresentar um crescimento menor do que o da população
ocupada total, que inclui as pessoas ocupadas formal e informalmente.
Além disso, verifica-se o
declínio do rendimento real mensal das pessoas ocupadas.
Neste
caso, é importante assinalar que, após o crescimento constatado para tal
rendimento a partir da primeira metade dos anos 90, até 1996 (período áureo do
Plano Real), ocorre uma desaceleração e declínio absoluto do rendimento mensal
dos trabalhos. Entre 1989 e 1999, o rendimento médio das pessoas ocupadas,
registradas pela PNAD, apresentou um decréscimo de pouco mais de 10% em todo
período.
Há,
portanto, nos indicadores do mercado de trabalho, uma coerência com o que vem
ocorrendo na economia regional, que registrou, durante praticamente duas
décadas, crescimento muito reduzido, como se assinalou.
1.6.
Problemas e Estrangulamentos do Desenvolvimento Regional
Os
grandes estrangulamentos no Nordeste estão a exigir da sociedade e dos poderes
públicos ações. E a mobilização de recursos e meios para a sua superação dizem
respeito, sobretudo, à dimensão econômica, à dimensão social, à tecnológica e
ao meio ambiente. Em particular, não se pode deixar de assinalar, além dos já
referidos, os grandes desafios sub-regionais, inclusive o representado pelo
semi-árido, que constitui, nesta parte do País, aspecto marcante da realidade
regional e que envolve parcela significativa da população que vive e trabalha
na região.
1.6.1.
Estrangulamentos econômicos
As
considerações feitas anteriormente e os estudos e as estratégias, recentemente
elaborados para a região, destacam sistematicamente a grande diferença que
existe entre a estreita base econômica e a grande dimensão do contingente de
população que dela depende. Com uma participação de 13% no produto interno
brasileiro, o Nordeste registra uma população que representa 28% do total da
população residente no País. Essa relação traduz não só as disparidades entre
as diferentes partes do território, mas as dificuldades maiores que, na região,
tem a população nordestina para obter renda e ocupação que lhe garantam
condições de vida adequada. Além disso, tal relação permite que se faça uma
avaliação não só das tentativas que foram feitas, há décadas, no encaminhamento
de solução para a questão regional, como do grande hiato que necessita ser
enfrentado no futuro, com o objetivo de reduzir as diferenças entre os
brasileiros que vivem em distintas regiões do País.
Embora
constitua uma grande simplificação, pode-se afirmar que o grande desafio
econômico do Nordeste reside na baixa
competitividade da economia regional, decorrente de vários fatores, com
destaque especial para o limitado nível de escolaridade, os estrangulamentos na
infra-estrutura econômica, a deficiente capacitação da mão-de-obra e o atraso
na capacidade científica e tecnológica, além das limitações associadas à
capacidade do empresariado regional. As limitações na competitividade regional
são responsáveis pela reduzida base
produtiva da região e se associam a uma insuficiente agregação de valor das cadeias produtivas regionais,
contendo o crescimento da economia e da renda nordestinas.
Alguns dos desafios
econômicos estão apresentados, a seguir, de forma detalhada:
a) Reduzido crescimento da economia regional nas duas últimas décadas
– Em primeiro lugar, cabe fazer referência não só à desaceleração do
crescimento da economia regional como à perda de sua capacidade de formação de
capital, que se traduziu num coeficiente de investimento menor que o registrado
pela economia nacional. Não obstante, numa perspectiva de longo prazo, a
economia regional haver registrado aumento da participação da sua renda per
capita na renda per capita nacional, o crescimento nas duas últimas décadas foi
insuficiente para reduzir os níveis de desemprego e subemprego da região e
assegurar avanços significativos na redução das desigualdades regionais. Em
síntese, como se assinalou, a região vem registrando nas últimas décadas, em
média, um crescimento a uma taxa muito reduzida e que não é capaz de absorver
parte relevante da sua força de trabalho desempregada e subempregada e de
reduzir, significativamente, os níveis de
desigualdade de renda no contexto nacional.
b) Grande fragilidade da agropecuária – Não obstante as transformações
pelas quais passou a atividade rural nordestina nos últimos anos, sobretudo com
o avanço da agricultura irrigada e a consolidação da produção de grãos no
cerrado, este setor registra, ainda, grande vulnerabilidade às condições
climáticas, do que decorre não só um crescimento muito lento dessa atividade,
em seu conjunto, como a freqüente ocorrência de taxas negativas na evolução do
produto gerado pela agropecuária. Dada a importância e o significado que o
setor tem na ocupação da força de trabalho regional, este fato implica não só a
continuidade do desemprego e subemprego no meio rural e de um intenso processo
migratório rural urbano, como a necessidade freqüente da abertura de frentes de
trabalhos como forma de garantir a sobrevivência de grande contingente de
população vitimada pelas estiagens.
c) Desestruturação dos segmentos exportadores tradicionais e incapacidade
da região para redefinir formas de integração capazes de contribuir
positivamente para o seu dinamismo econômico – Este tem sido um aspecto assinalado
em diversos estudos que mostram, ao lado do gradativo isolamento da economia
regional relativamente aos fluxos do comércio internacional, a perda
significativa do Nordeste na participação das exportações brasileiras. A
emergência de novos segmentos exportadores e as mudanças significativas na
estrutura das exportações regionais não foram capazes de reverter as perdas da
região no contexto das exportações brasileiras.
d) Insuficiente dotação da infra-estrutura econômica e sua inadequação em
relação aos pólos mais dinâmicos da economia regional – Apesar de os
avanços ocorridos na implantação da infra-estrutura regional, em particular no
que se refere à oferta de energia
elétrica, rodovias, portos e
aeroportos, desde o início da implantação da política de desenvolvimento
regional, a infra-estrutura da região é, presentemente, não só insuficiente e
inadequada para dar suporte à atividade produtiva, como tende a se constituir
em um fator de agravamento das diferenças intra-regionais, face à má distribuição
destes ativos na região.
e) Reduzida qualificação da mão-de-obra regional – Num contexto no
qual o conhecimento e a mão-de-obra qualificada constituem-se a base para o
avanço de novas atividades produtivas e o suporte para o dinamismo das
economias mais modernas, a força de trabalho no Nordeste caracteriza-se pelo
número reduzido de anos de escolaridade e pela carência de especialização em
áreas cada vez mais estratégicas para o desenvolvimento das atividades mais
dinâmicas. Deste fato, decorre um estrangulamento importante cuja superação
pode garantir o surgimento e consolidação de atividades empregadoras e
dinâmicas. A este respeito é suficiente considerar que em 2002, de acordo com o
IBGE (PNAD), a população ocupada no Nordeste, de 10 anos e mais, tinha uma
média de anos de estudos correspondente a 5,2 anos. Esta média é menor que a
nacional, de 6,9 anos, e bem menor que a registrada para o Sudeste (7,8 anos) e
para o Sul (7,3 anos).
f) Baixo grau de integração e lento processo de modernização da estrutura
industrial da região – Com uma estrutura industrial muito diversificada e
heterogênea, da perspectiva tecnológica, a região apresenta uma parcela
importante da sua atividade manufatureira com reduzido dinamismo e baixo grau
de modernização tecnológica, do que decorrem dificuldades crescentes na
competição com a produção importada e com a de outras regiões mais
industrializadas. Associa-se a isto o reduzido grau de integração do setor
industrial e deste com os demais setores da economia regional. A identificação
dos elos que faltam nas cadeias e nos arranjos produtivos locais é condição
prévia para o processo de integração da estrutura produtiva regional e para a
constituição de complexos e pólos produtivos capazes de permitir um maior
dinamismo e competitividade à economia regional.
1.6.2.
Estrangulamentos científicos e tecnológicos
Com
relação à área da ciência e da tecnologia, o que é relevante considerar são os
seguintes desafios:
a)
Reduzida capacidade da região na geração, absorção e difusão de informações e
conhecimento científicos e tecnológicos - Este desafio tem relação
não só com o reduzido nível formal de escolaridade da população e, sobretudo,
dos responsáveis pela gestão das empresas nas mais diferentes atividades
produtivas, mas com a dimensão e capacidade dos sistemas regionais de geração e
difusão de novas e modernas técnicas e processos de produção.
b)
Desarticulação entre o sistema de geração e o setor produtivo -
Embora reduzido em termos quantitativos, quando são considerados os recursos
humanos, as instalações e meios disponíveis, existe, na região, nas
universidades e centros de pesquisa, uma capacidade instalada que produz
conhecimento e tecnologia que poderia ser utilizada, mais intensamente, pelo
setor produtivo. Não obstante, prevalece, historicamente, uma desarticulação
entre a área que produz e a que, potencialmente, poderia utilizar tais
conhecimentos e técnicas, a qual necessita ser superada.
c)
A existência de grande defasagem tecnológica em importantes segmentos
produtivos da região – Em segmentos de praticamente todos os
setores produtivos da região, existe defasagem entre os processos produtivos
que aqui são adotados e aqueles de outras regiões brasileiras e de países com
os quais a região compete. Deste fato, vem decorrendo parte importante do
isolamento do Nordeste tanto no mercado internacional como no mercado
inter-regional; além disso, no próprio Nordeste, a produção regional tem sido
afastada do mercado interno em razão de sua menor capacidade de competir com
empresas de outras regiões ou de outros países.
d)
A presença de problemas específicos da região, como a sustentabilidade do
desenvolvimento do semi-árido e outras sub-regiões nordestinas, cuja solução
passa pela geração e difusão de tecnológica – Nestes casos, há uma
demanda ou necessidade de conhecimento científico e tecnológico que, embora
presentes em determinados centros de pesquisa, necessita ser apoiado e
complementado em diferentes áreas, como as novas tecnologias de biogenética e
manejo ambiental, além de sua difusão junto aos potenciais usuários.
1.6.3.
Problemas sociais
Caracterizada
como a região de mais baixo nível de renda do País, o Nordeste registra a
presença de um grande contingente de população situada abaixo da linha de
pobreza, que, sem dúvida, constitui o maior dos desafios na concepção de uma
estratégia que pretende implantar o esforço de desenvolvimento regional
sustentável, o que significa considerar, como ponto focal, a inclusão social. A
análise deste grande desafio social permite sua desagregação em diferentes
aspectos:
a)
Reduzido acesso, de parcela relevante da população economicamente ativa, ao
trabalho produtivo e, em conseqüência, à renda – A
base econômica estreita em relação à população, seu lento crescimento nas
últimas décadas e a grande vulnerabilidade de segmentos importantes da
estrutura produtiva regional são aspectos que determinam, em grande parte, as
dificuldades da força de trabalho regional no mercado de trabalho, tanto no que
se refere ao emprego como às condições de trabalho e de remuneração. Do lado da
oferta da força de trabalho, deve-se levar em conta seu crescimento ainda
intenso, que decorre da dinâmica das faixas da população jovem, que está entrando
no mercado de trabalho e que está associada às altas taxas de natalidade
vigente em décadas passadas. A presença crescente do desemprego, do subemprego
e da sub-remuneração traduz bem este problema.
b)
Insuficiente qualidade da educação oferecida –
Apesar do progresso ocorrido no sistema educacional da região, nas últimas
décadas, particularmente no que se refere à sua cobertura junto à população
urbana e rural, são acentuadas as deficiências do referido sistema, associadas,
entre outros fatores qualitativos, não só a problemas nas instalações das
escolas e do material escolar, mas à qualificação dos professores e seus baixos
níveis de remuneração. Algumas informações sobre o nível de formação dos
professores, obtidas no censo escolar (MEC-INEP) para 2003, mostram as
diferenças marcantes entre o Nordeste e a média brasileira e outras regiões. No
Nordeste, no ensino médio e médio profissionalizante, do total das pessoas que
exerciam funções docentes, cerca de 82,8% tinham curso superior completo. A média
brasileira era de 90,2%, a do Sudeste era de 95,5% e do Sul cerca de 91,6%. Em
alguns estados nordestinos, este percentual fica abaixo de 75%. No que se
refere ao ensino fundamental de 1a a 4a séries, o referido percentual no
Nordeste alcança 20,4%, enquanto o Brasil registra 36,1%, o Sudeste cerca de
49,7% e o Sul aproximadamente 51%.
c)
Elevadas taxas de analfabetismo e a presença marcante do analfabetismo
funcional – Com as taxas de analfabetismo mais altas do
País e com a existência, mesmo entre os que freqüentaram escola, do
analfabetismo funcional, a população da região caracteriza-se por sua grande
vulnerabilidade tanto em relação ao mercado de trabalho, cada vez mais
exigente, quanto à qualificação, como no contexto de uma sociedade na qual ler
e escrever constituem pontos centrais da convivência e da ascensão social. No
que se refere ao analfabetismo funcional[6],
no Nordeste a taxa registrada, em 2002, com base nos dados da PNAD, alcançava
40,8%, entre a população de 15 anos e mais. A média nacional, na época, era de
26%. No Sudeste era de aproximadamente 19,6% e no Sul alcançava 19,7%.
d)
Índices elevados de morbidade e mortalidade – Não obstante os
avanços ocorridos no que se refere à
redução da mortalidade geral e infantil e no que diz respeito à expansão de
importantes programas de assistência à saúde (vacinação e programas de saúde da
família), os indicadores nordestinos são extremamente baixos, dadas as
condições de pobreza, de um lado, e as deficiências e precariedade do sistema
nacional de saúde, de outro.
e)
Baixos padrões de saneamento e higidez ambiental – As
condições das habitações nordestinas, apesar da melhoria ocorrida nos serviços
de abastecimento de água e de energia elétrica, caracterizam-se, ainda, pela
inexistência, em parcela significativa das moradias, de água potável e,
sobretudo, de esgotamento sanitário. Os indicadores regionais, neste
particular, distanciam-se, significativamente, da média nacional e mostram que
parte significativa desses déficits localiza-se, neste particular, no Nordeste.
f)
Expressivo déficit habitacional – Com a desaceleração do
esforço que, na fase de crescimento mais intenso da economia nacional e
regional, o setor público realizou na construção de habitações populares, o
Nordeste vem registrando aumento significativo, nas últimas décadas, do déficit
habitacional que, presentemente, alcança não só os grandes aglomerados urbanos,
mas se difunde nos municípios de menor porte.
g)
Baixa propensão da população da região às atividades associativas e à mobilização
social – Embora estejam presentes na região experiências exitosas
de associativismo e de mobilização social, tanto no meio urbano como no meio
rural, predomina, no Nordeste, uma reduzida participação da população nos
centros de decisões mais relevantes, através da presença de lideranças e atores
sociais representativos dos interesses mais gerais da população.
1.6.4.
Problemas Sub-regionais
Apesar
da reconhecida unidade cultural do Nordeste, é importante que se saliente a
existência de uma grande heterogeneidade espacial da região, que comporta
sub-regiões com diferentes dinamismo, nível de renda, relações de trabalho e
formas de vida. As informações apresentadas na Política Nacional de
Desenvolvimento Regional mostram as diferenças marcantes na dinâmica das
economias sub-regionais do Nordeste.
a)
Os Problemas do semi-árido. A presença do semi-árido,
pela sua dimensão territorial e pela importância do contingente demográfico que
nele reside, apresenta desafios da maior relevância que influem, significativamente,
na dinâmica social e econômica da região. Entre eles cabe fazer referência aos
seguintes:
(i)
a presença de uma agropecuária muito vulnerável às condições climáticas, da
qual depende parte significativa da população subregional, dá lugar a profundas
crises sociais e econômicas quando da ocorrência das secas, o que,
simultaneamente, torna inviável um processo sustentável de acumulação de
capitais e reservas por parte do produtor;
(ii)
inviabilidade de muitas das atuais
formas de produção dominantes no Semi-árido, que se mostram inadequadas às suas
peculiaridades, dependentes de conhecimento e informação que leve a novos
processos produtivos, tecnologia e capacitação da população;
(iii)
o isolamento de grande parte das
populações do semi-árido, a presença marcante da cultura de resignação em
relação à precária situação vigente, o reduzido nível de participação nas
decisões, a dependência econômica em relação aos grandes proprietários e
dirigentes políticos constituem condições propícias à consolidação de formas de
atuação do poder público pautadas pelo assistencialismo e pelo clientelismo e
que constituem obstáculos significativos às transformações que se fazem
necessárias para o processo de desenvolvimento econômico e social da
sub-região;
(iv)
embora a concentração fundiária e as dificuldades do acesso à água não
constituam, no Nordeste, aspectos específicos do semi-árido, destes fatos
resultam a exclusão social de parcela da população do semi-árido, parte do
clientelismo antes referido, além da consolidação de relações de trabalho
extremamente adversas para os que não têm acesso a tais meios de produção.
b)
Os Problemas da Zona da Mata. Os desafios da Zona da Mata
abrangem tanto a sua parte setentrional
quanto a sua porção localizada na Bahia. Não obstante as transformações pelas
quais vem passando a atividade produtiva na Zona da Mata, sobretudo quando se
considera a sua parte compreendida pelos Estados de Alagoas, Pernambuco e
Paraíba e Rio Grande do Norte, vale o destaque para sua grande concentração
demográfica e para a precária condição de vida e de trabalho de parcela
importante da população da subregião. A reduzida diversificação da atividade
produtiva associada à grande dependência que a sub-região possui, ainda, em
relação à economia canavieira, não tem permitido a geração de emprego e renda
de modo a reverter as taxas de desemprego e subemprego estrutural e sazonal que
caracteriza a sub-região. Agregue-se a isto a grande concentração da
propriedade rural.
c)
Os Problemas do Cerrado. Constituindo-se em uma fronteira
produtiva na região, esta sub-região vem transformando-se numa área produtora
de grãos, voltada, sobretudo, para o mercado externo. Não obstante os avanços
econômicos, a dotação de infraestrutura, notadamente de transporte, de energia
elétrica e de equipamentos urbanos, pode-se transformar em um estrangulamento à
continuidade do crescimento da sub-região. Ao lado desses aspectos é importante
considerar a necessidade de reduzir os conflitos entre o intenso crescimento da
produção e os processos produtivos adotados, de uma parte, e a questão
ambiental, vinculada ao solo e à cobertura vegetal, de outra.
d)
Os Problemas da Rede Urbana da Região. A característica marcante
da rede urbana do Nordeste reside na grande concentração da produção de bens e
de serviços, dos investimentos e da população nos grandes aglomerados urbanos
(regiões metropolitanas e centros regionais), de reduzido número, e a crescente
fragilidade da rede, por um grande número de médios e pequenos aglomerados, à
medida que se avança para o interior da região. Disto vem resultando,
sobretudo, as dificuldades de disseminação espacial do desenvolvimento
econômico e social, que tende a se restringir aos espaços dos grandes e poucos
aglomerados que comandam a rede de cidades e a vida econômica e política da
região.
1.6.5.
Problemas Ambientais
No contexto de uma
estratégia de desenvolvimento sustentável do Nordeste, as peculiaridades da
região no que se referem ao meio ambiente exigem uma atenção especial com a dimensão
ambiental e a clara explicação dos grandes desafios que se apresentam, neste
particular. Dentre outros, vale o destaque para os seguintes desafios
ambientais da região:
a)
O processo de desertificação – Entendido como a degradação
dos solos e dos recursos hídricos, da vegetação e da biodiversidade, além da
redução da qualidade de vida da população afetada, o processo de desertificação
vem ocorrendo, sobretudo, no semi-árido,traduzindo-se em indicadores ambientais
negativos, como a erosão dos solos, empobrecimento da caatinga e extrema
degradação dos recursos hídricos.
b)
A degradação ambiental dos grandes aglomerados urbanos –
Associada, sobretudo, aos problemas e às deficiências do sistema de saneamento
básico, notadamente o despejo inadequado de resíduos e a sua deficiente gestão
dos resíduos sólidos, a degradação ambiental marca grande parte dos aglomerados
urbanos na região, notadamente os de maior dimensão demográfica.
c)
A degradação ambiental de importantes ecossistemas –
Neste caso, tal processo vem concentrado-se:
(i) nas áreas litorâneas, em particular em que
vem ocorrendo a urbanização acelerada e a intensificação dos fluxos turísticos;
(ii) nas matas ciliares;
(iii) nos mangues e estuários, associados ao
processo de urbanização e ao desenvolvimento de atividades produtivas;
(iv) nos rios da região, em
particular o São Francisco.
2.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES
As
tendências vistas anteriormente só deverão mudar caso o problema regional seja
colocado como um problema nacional. A elaboração da PNDR foi o primeiro passo
nessa direção, ou seja, olhando os desníveis regionais em todas as regiões
brasileira, onde o Nordeste é colocado realmente como prioridade dada a
dimensão dos desafios a superar. Depois de uma longa experiência de
planejamento regional, o Nordeste não só apresenta grandes desafios, que estão
a exigir uma atuação cada vez mais intensa e coordenada das diferentes esferas
de governo, como registra oportunidades e potencialidades significativas que
podem constituir-se a base para superação dos seus graves problemas econômicos,
sociais e ambientais.
Tais
desafios e potencialidades estão presentes em todas as dimensões da realidade
regional e deverão ser considerados como pontos fundamentais na formulação da
estratégia que deve orientar a ação futura das diferentes esferas
governamentais. O que se faz a seguir é sintetizar as tendências já vistas
anteriormente, na construção de um cenário tendencial para os períodos de 2010,
2015 e 2025, e ao mesmo tempo resumir os desafios e as potencialidades ou
oportunidades, consideradas da maior relevância para a discussão e concepção
dos rumos e diretrizes que deverão ser seguidas no futuro imediato.
3.
Cenário Tendencial do Nordeste
Os
fatos e reflexões citadas anteriores apresentaram as tendências do contexto
externo e as características internas no Nordeste que preparam as condições
para o desenvolvimento futuro da região (aproveitando as oportunidades). A
depender da intensidade e forma que apresentem as tendências no futuro, podem
ser definidos dois cenários para o Nordeste: primeiro, um cenário tendencial,
que expressa a continuidade da evolução recente da região, decorrente da
ausência ou baixa eficácia das políticas e estratégias de desenvolvimento
regional; segundo, o cenário normativo (ou desejado), que expressa o futuro que
decorreria da efetiva implementação da Política Nacional de Desenvolvimento
Regional e do Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste,
enfrentando os desafios e aproveitando as oportunidades, de modo a se inserir
positivamente no contexto externo.
Os
dois cenários partem de uma configuração futura do contexto externo praticamente
igual (mundial e nacional), diferenciando-se a partir das distintas hipóteses
sobre os processos internos, particularmente no que se refere à capacidade de
implementação de políticas de desenvolvimento, o que pressupõe uma postura
política da sociedade regional e uma capacidade técnica e gerencial de execução
de programas e projetos de desenvolvimento. As tendências exógenas apresentadas
no capítulo anterior se traduzem, de forma simplificada, pelos seguintes
processos:
1. processo irregular e moderado de
globalização da economia e de integração comercial com a formação de blocos,
contendo a recuperação e consolidação lenta do MERCOSUL e início da criação da
ALCA, que tende a gerar, no território nacional, forças centrípetas que podem
levar a uma fragmentação da economia nacional;
2. lenta recuperação da economia
brasileira, com crescimento moderado mas sustentado a partir de 2007 e rápida
modernização da estrutura econômica e da base tecnológica, redefinindo as condições
de competitividade regional;
3. pequena redução da restrição da poupança
interna, particularmente da poupança pública, ampliando as possibilidades de
investimento, associada, contudo, a um movimento de diminuição dos subsídios e
incentivos por parte do Estado, podendo moderar alguns incentivos regionais;
4. ampliação da presença do setor privado
nos investimentos estruturadores de infra-estrutura e logística (projetos que
exigem altos investimentos e longo período de maturação), apoiados pelo sistema
PPP – Parceria Público-Privada, o qual tende a se concentrar em regiões de
maior desenvolvimento e, portanto, de maior possibilidade de retorno e
rentabilidade econômico-financeira;
5. intensificação da concorrência e da
pressão competitiva entre as regiões, favorecendo aquelas com melhor base
tecnológica, maiores níveis de escolaridade e qualificação e mais ampla
infra-estrutura e logística, situando o Nordeste em condições desfavoráveis;
6. fortalecimento das unidades da federação
e da concorrência entre os Estados do Nordeste, estimulando certo isolacionismo
dos governos estaduais e dificultando a formação de um sentimento e,
principalmente, de um projeto macrorregional de desenvolvimento.
O
cenário tendencial do Nordeste decorre da hipótese de fortes limitações na
definição e implementação de um projeto nacional que contemple uma estratégia
de desenvolvimento diferenciado da região, nos termos propostos pela Política
Nacional de Desenvolvimento Regional; vale dizer, uma política nacional que aproveite
a diversidade regional do País e promova o desenvolvimento diferenciado das
regiões com base nas suas potencialidades, neutralizando as tendências de
concentração regional que acompanham a inserção mundial da economia brasileira
e os impactos de políticas setoriais que reforçam a eficiência e
competitividade econômica nacionais. Desta forma, o cenário tendencial
resultaria de uma realidade política que não permitiria a efetiva implementação
da PNDR, seja por falta de prioridade seja por restrição financeira, passando a
tratar o território nacional como se fora homogêneo e dispensasse o papel
indutor do Estado no processo de erradicação da pobreza e dos desníveis
inter-regionais de desenvolvimento.
Esta
situação reflete também uma limitada capacidade de organização e influência
política do Nordeste na formulação das políticas nacionais, pela dificuldade da
recomposição de uma coalizão de vontades, que reafirme o Nordeste perante a
Nação brasileira, porquanto os principais atores sociais (especialmente os
governos estaduais) prefeririam agir isoladamente.
Nessas
condições, o Nordeste apenas acompanha o crescimento da economia nacional,
conservando a sua participação relativa no PIB brasileiro e na renda per
capita, embora deforma muito segmentada e diferenciada internamente, convivendo
com áreas e sub-regiões dinâmicas e integradas e espaços estagnados e
desarticulados do movimento geral da economia nacional e regional. Nos próximos
vinte anos, a economia nordestina deve crescer cerca de 4,47% ao ano, na média,
semelhante ao ritmo da economia brasileira, mantendo a participação de,
aproximadamente, 13,51% no PIB nacional (embora possa flutuar no período), com
uma evolução mais lenta nos primeiros anos e aceleração nos últimos dez anos.
Com uma taxa média de crescimento de 3,5% nos primeiros cinco anos, aumenta
para 4,6% no qüinqüênio 2010/2015 e se acelerando para taxa de 5,2% na média
dos últimos dez anos (2015 a 2025).
Este
movimento resulta das restrições estruturais, que impedem o crescimento inicial,
o qual só se amplia ao longo do tempo, na medida em que tais restrições vão
sendo superadas e são retomadas taxas mais elevadas de investimento. Apesar de
acompanhar o PIB do Brasil, o PIB per capita do Nordeste cresce mais do que o
brasileiro, na medida em que sua população tende a registrar evolução mais
lenta, em grande parte devido ao processo de emigração; assim, partindo de
48,79% do PIB per capita do Brasil, em 2005, o indicador nordestino aumenta
lentamente, chegando a pouco mais de 50%, em 2025 (ver detalhe dos indicadores
comparados e sua evolução no cenário tendencial na tabela a seguir).
Em
termos absolutos, o PIB do Nordeste cresce de R$ 181 bilhões em 2005
(estimativa partindo do dado oficial para 2002), para R$ 497,93 bilhões em
2025, ao mesmo tempo em que o PIB per capita evolui de, aproximadamente, R$
3.565,00 para cerca de R$ 8.096,00, no final do período. Nos mesmos 20 anos, o
PIB do Brasil também quase triplica, passando de R$ 1.346,00 bilhões para algo
próximo de R$ 3.684,00 bilhões de reais, em 2025. Com o crescimento, mesmo
moderado, da economia, a taxa de desemprego aberto tende a declinar lenta mas
de forma continuada, tanto no Nordeste quanto no Brasil, chegando em2025 em
torno de 5% da PEA, apesar do leve aumento da produtividade do trabalho.
A
modernização e integração mundial da economia brasileira, acompanhadas de
avanços tecnológicos e aumento da produtividade do trabalho, tendem a
beneficiar as regiões de maior vantagem competitiva em detrimento do Nordeste,
processo apenas moderado pela implementação de limitadas e insuficientes
políticas e incentivos regionais. As restrições de recursos públicos e a
utilização do sistema PPP – Parceria Público-Privado podem acentuar este
movimento, na medida em que, mesmo com garantias governamentais, os capitais
privados preferem os investimentos nas regiões de retorno maior, mais rápido e
mais seguro. Com a insuficiência dos investimentos estruturadores que criam
externalidades econômicas, os investimentos no Nordeste seriam inferiores ao
fluxo de capitais das regiões com maior vantagem competitiva. Desta forma, e
considerando as limitações de competitividade do Nordeste, a região conservaria
uma participação modesta nas exportações brasileiras, excetuando algumas
sub-regiões de intenso crescimento e produção de commodities, como os grãos e
pecuária dos cerrados, a mínero-metalurgia da Bahia e do Maranhão, além do
turismo. A tabela abaixo mostra uma representação aproximada da evolução futura
da economia e dos indicadores sociais do Nordeste no cenário tendencial.
Tabela 2 – Indicadores do Cenário
Tendencial
VARIÁVEIS
|
2002
|
2010
|
2015
|
2025
|
PIB Brasil (R$ bilhões)
|
1.346,0
|
1.772,4
|
2.219,4
|
3.684,5
|
Taxa média anual de crescimento do PIB do Brasil (%)
|
|
3,5
|
4,6
|
5,2
|
PIB Nordeste (R$ bilhões)
|
181,9
|
239,5
|
299,9
|
497,9
|
Taxa média anual de crescimento do PIB do NE (%)
|
|
3,5
|
4,6
|
5,2
|
Participação do NE/Brasil (%)
|
13,5
|
13,5
|
13,5
|
13,5
|
População Brasil (mil)
|
184.184,3
|
196.834,1
|
208.468,0
|
230.138,9
|
População Nordeste (mil)
|
51.019,1
|
53.904,5
|
56.558,2
|
61.497,4
|
População
Nordeste/Brasil (%)
|
27,7
|
27,4
|
27,1
|
26,7
|
PIB-Per
Capita do Brasil (R$)
|
7.307,9
|
9.004,7
|
10.646,0
|
16.010,1
|
PIB-Per
Capita do Nordeste (R$)
|
3.565,3
|
4.443,6
|
5.303,0
|
8.096,8
|
PIB-Per
Capita NE/Brasil (%)
|
48,8
|
49,6
|
49,8
|
50,6
|
PEA Brasil
(mil)
|
83.243,2
|
94.480,4
|
104.234,0
|
119.672,2
|
PEA
Nordeste (mil)
|
22.515,5
|
24.796,1
|
27.148,0
|
30.748,7
|
População
Ocupada Brasil (mil)
|
75.458,2
|
86.000,0
|
98.200,0
|
113.400,0
|
População
Ocupada Nordeste (mil)
|
20.300,0
|
22.800,0
|
25.600,0
|
29.200,0
|
Tx de
desemprego aberto BR (PEA ocupada/PEA total)
|
9,4
|
9,0
|
5,8
|
5,2
|
Tx de
desemprego aberto NE (PEA ocupada/PEA total)
|
9,8
|
8,1
|
5,7
|
5,0
|
Nível de
escolaridade BR (anos médios de estudo)
|
6,4
|
7,2
|
7,9
|
9,9
|
Nível de
escolaridade NE (anos médios de estudo)
|
5
|
5,8
|
6,6
|
8,7
|
Tx de
analfabetismo BR (% na pop. de 7 anos e mais)
|
11,2
|
10,4
|
9,7
|
7,3
|
Tx de
analfabetismo NE (% na pop. de 7 anos e mais)
|
22,4
|
20,3
|
18,1
|
13,5
|
Mortalidade
infantil BRl (óbitos em mil nascidos vivos)
|
25,1
|
20,5
|
17,8
|
12,8
|
Mortalidade infantil NE (óbitos em mil nascidos vivos)
|
37,7
|
30,4
|
25,7
|
17,4
|
Domicílios com abastecimento de água BR (%)
|
82,5
|
88,3
|
92,8
|
100,00
|
Domicílios com abastecimento de água NE (%)
|
72,1
|
77,2
|
81,1
|
87,4
|
Domicílios com esgotamento sanitário BR (%)
|
48
|
55,6
|
62,1
|
77,6
|
Domicílios com esgotamento sanitário NE (%)
|
25,7
|
29,8
|
33,3
|
41,6
|
Fonte:
(1) IBGE (dados de 2002, exceto PEA ocupada que é de 2001) e
de Escolaridade, Esgotamento Sanitário e Abastecimento são de 2003 (PNAD
2002/2003).
(2) Dado do PIB para 2005 foi considerado com base na
informação oficial de 2002.
(3) Dados de população são estimativas do IBGE até 2020 com
projeção para 2025 com mesma taxa.
As
condições de vida da população nordestina devem evoluir de forma muito lenta e
com defasagem em relação ao desempenho dos indicadores sociais do Brasil,
resultado direto do moderado crescimento da economia com fragmentação e
diferenciação regional, agravado pela limitação dos projetos sociais e sua
orientação para a compensação da pobreza. Embora algumas sub-regiões ganhem
qualidade e nível de renda acima da média nacional, várias áreas pobres e
desarticuladas dificultam a melhoria dos indicadores sociais da região. Apesar da implementação de
alguns projetos regionais e de políticas sociais para as áreas pobres do
Nordeste, especialmente o Semi-árido, tenderia a se acentuar a fragmentação
territorial, com o aumento da distância econômica e social entre as
sub-regiões.
Mesmo
assim, a continuidade das políticas sociais, especialmente os projetos
compensatórios para as regiões mais pobres, leva a uma melhoria lenta, mas
continuada, da realidade social nordestina, mesmo nas áreas mais atrasadas e
desarticuladas. Tende, assim, a ocorrer um lento processo de convergência dos
indicadores com o desempenho brasileiro. Especialmente na educação, em que o
Nordeste tem a maior defasagem em relação ao resto do Brasil, os avanços seriam
importantes, mas abaixo da média do desempenho brasileiro. O nível de
escolaridade do Nordeste deve subir dos atuais 5 anos médios de estudo (1,4
anos abaixo da média nacional) para 8,7 anos médios, em 2025, ainda 1,2 anos
menos que a média brasileira tenderia a alcançar (9,9 anos), mas dois anos
acima do atualmente registrado pela região Sul, o mais alto nível do Brasil.
Por outro lado, a taxa de analfabetismo continua declinando, devendo cair quase
10 pontos percentuais nos 20 anos, chegando a 13,5% da população de sete anos e
mais, em 2025, diante dos 22,4% atuais; mesmo assim, em 2025, o percentual de
analfabetos no Nordeste ainda será o dobro da média nacional (devendo chegar a
7,3%) e do atual indicador da região Sul (5,9% da população).
Os
outros indicadores sociais também seguem um processo de moderada melhoria,
quase de forma inercial mas, continuada: a mortalidade infantil declina de
37,65 óbitos em mil nascidos vivos (dado de 2002) para cerca de 17,4, em 2025.
Mesmo assim, quase cinco pontos percentuais acima do que deve registrar a média
nacional; o índice de abastecimento de água dos domicílios nordestinos chega a
cerca de 87%, em 2025, 15 pontos percentuais acima do valor registrado em 2002
e ainda 13 pontos abaixo da média nacional. O percentual de domicílios com
esgotamento sanitário (ligados à rede de esgoto) sobe de forma mais rápida,até
porque está num patamar muito baixo, devendo chegar em 2025 com 41,6% (frente
aos 25,7% de 2002), aumentando a diferença para a média brasileira, que deve
alcançar em 2025 pouco mais de 77% dos domicílios.
4. Desafios do Nordeste
Os
grandes desafios que, no Nordeste, estão a exigir da sociedade e dos poderes
públicos ações e a mobilização de recursos e meios para a sua superação dizem
respeito,sobretudo, à dimensão econômica, à dimensão social, à tecnológica e ao
meio ambiente. Em particular, não se pode deixar de assinalar, além dos já
referidos, os grandes desafios subregionais, inclusive o representado pelo
Semi-árido, que constitui, nesta parte do País, aspecto marcante da realidade
regional e que envolve parcela significativa da população que vive e trabalha
na região. Portanto, para quebrar as tendências e o hiato que separam o
Nordeste das regiões mais ricas do Brasil, é necessário enfrentar os desafios
que são apresentados a seguir.
4.1.
Desafios econômicos
As considerações feitas
anteriormente e os estudos e as estratégias, recentemente elaborados para a
região destacam, sistematicamente, a grande diferença que existe entre a
estreita base econômica e a grande dimensão do contingente de população que
dela depende. Com uma participação de 13% no produto interno brasileiro, o
Nordeste registra uma população que representa 28% do total da população
residente no País. Esta relação traduz não só as disparidades entre as
diferentes partes do território, mas as dificuldades maiores que, na região,
tem a população nordestina para obter renda e ocupação que lhe garantam
condições de vida adequada. Além disso, tal relação permite que se faça uma
avaliação não só das tentativas que foram feitas, há décadas, no encaminhamento
de solução para a questão regional, como do grande hiato que necessita ser
enfrentado no futuro, com o objetivo de reduzir as diferenças entre os
brasileiros que vivem em distintas regiões do País.
Um
dos maiores desafios da região consiste, portanto, na concepção de objetivos e
na mobilização de meios para a ampliação da estreita base produtiva regional,
da qual decorra a inclusão da população no processo produtivo através de
relações de produção e de trabalho que lhe garantam melhoria substancial das
condições de vida. Embora constitua uma grande simplificação, pode-se afirmar
que o grande desafio econômico do Nordeste reside na identificação dos meios e
procedimentos que permitam a superação da baixa competitividade da economia
regional, decorrente de vários fatores, com destaque especial para o limitado
nível de escolaridade, os estrangulamentos na infraestrutura econômica, a
deficiente capacitação da mão-de-obra, e o atraso na capacidade científica e
tecnológica, além das limitações associadas à capacidade do empresariado regional.
As limitações na competitividade regional são responsáveis pela reduzida base
produtiva da região e se associam a uma insuficiente agregação de valor das
cadeias produtivas regionais, limitando o crescimento da economia e da renda
nordestinas. Alguns dos desafios econômicos estão apresentados, a seguir, de
forma detalhada:
a)
Superação dos determinantes do reduzido crescimento da economia regional nas
duas últimas décadas – Para que o Nordeste consiga diminuir as
disparidades em relação às regiões mais avançadas do país, é necessário obter
taxas de crescimento econômico superiores às taxas do Brasil, de modo a reduzir
as disparidades de renda em relação ao centro-sul. Para isso, deve-se garantir
um volume de investimentos compatíveis com as necessidades que se quer alcançar
b)
A reestruturação do setor exportador e integração com a economia Nacional – O
desafio que se coloca é o de consolidar a participação de novas e mais
dinâmicas atividades exportadoras que têm surgido na região, e de aumento
significativo da competitividade dos produtos tradicionais. Constitui ponto
central de um processo de inserção da economia regional no contexto mundial.
c)
Superação das carências de infra-estrutura econômica e integração aos pólos
mais dinâmicos da economia regional – O desafio, neste particular,
consiste não só na obtenção de formas adequadas de financiamento para
implantação e modernização da infra-estrutura econômica, como de adequação do
sistema de transporte e do sistema de produção e distribuição de energia às
novas demandas que as transformações econômicas, anteriormente assinaladas,
criaram na região. Há ainda que considerar os grandes projetos que estão sendo
negociados em, praticamente, todos os estados da região e que vão exigir
infra-estrutura de rodovias, ferrovias e portos, adequada à crescente produção
decorrente dos referidos projetos.
d)
A concentração e intensificação de esforços voltados para a qualificação da
mão-de-obra regional – O desafio, portanto, consiste em
conceber políticas e mobilizar meios adequados para aumentar a escolaridade e a
qualificação profissional da população regional no sentido de permitir-lhe uma
inserção nas novas formas de produção que deverão ser consolidadas na região.
e)
Integração e modernização da estrutura industrial da região – A
superação desses aspectos deverá exigir a adoção de uma abordagem voltada para
as cadeias e arranjos produtivos, bem como a criação de condições diferenciadas
para a economia regional atrair investimentos industriais que permitam a integração
da sua indústria e a obtenção de uma maior competitividade no mercado regional,
nacional e internacional.
4.2. Desafios científicos e tecnológicos
Com relação à área da
ciência e da tecnologia, os desafios são os seguintes:
a)
Ampliação e consolidação da capacidade da região na geração, absorção e difusão
de informações e conhecimento científicos e tecnológicos –
Este desafio tem relação não só com a necessidade de superação de processos
produtivos tradicionais e do reduzido nível formal de escolaridade da força de
trabalho e dos responsáveis pela gestão das empresas nas mais diferentes
atividades produtivas, como com a necessidade de ampliação da capacidade dos
sistemas regionais de geração e difusão de novas e modernas técnicas e
processos de produção, e de sua adequação à demanda dos segmentos produtivos.
Trata-se, portanto, de um lado, de ampliar significativamente o sistema de
produção e difusão de tecnologia e, de outro, de adequá-lo a um sistema
produtivo no qual prevalecem formas tradicionais e de reduzido grau de
competitividade como de reduzido grau de escolaridade dos seus integrantes.
b)
Promoção da articulação entre o sistema de geração e o setor produtivo – A
superação dessa desarticulação e a adoção de estímulos, tanto da perspectiva da
empresa, como do sistema de produção e difusão da tecnologia, para que
encontrem formas adequadas de integração, constituem uma prioridade a ser
considerada em qualquer estratégia de desenvolvimento da região.
4.3.
Desafios sociais
Os desafios na área social
requerem um grande esforço da nação, para sua superação, particularmente na
Região Nordeste, onde são notórios os desníveis de qualidade de vida, quando
comparados com outras macrorregiões, sendo relatados a seguir:
a)
Inclusão de parcela relevante da população economicamente ativa, ao trabalho
produtivo e ao acesso à renda – O desafio reside não só na
obtenção de taxas de crescimento adequadas à demanda da força de trabalho
regional, mas à adequação, também, do perfil da mão-de-obra regional à oferta
de postos de trabalho decorrentes da implantação dos novos empreendimentos,
mais exigentes em qualificação.
b)
Aumento significativo da qualidade da educação oferecida – O
desafio será superar as deficiências das instalações das escolas e do material
escolar, e, principalmente, a qualificação dos professores e incentivos aos
profissionais de educação, sem os quais não haverá mudança na qualidade do
ensino.
c)
Superação do analfabetismo – A superação dessas
condições exige a mobilização de pessoas, meios materiais e organizacionais que
representam grandes desafios para o sistema educacional do País, em seus
distintos níveis. Tais desafios tornam-se mais significativos quando se
considera o fracasso de várias tentativas que foram desenvolvidas em sucessivos
governos, com o objetivo de erradicar o analfabetismo em suas diferentes
formas. Dado o tamanho do problema, no Nordeste o desafio ainda é maior.
d)
Redução dos elevados níveis de morbidade e mortalidade – O
fato de o Nordeste registrar, em 2003, uma taxa de mortalidade infantil de 41,7
crianças por mil nascidas vivas, comparativamente com a brasileira de 35,4,
além de uma expectativa de vida de 66,7 anos contra 71,3 no Brasil, retrata as
condições de vida da população, particularmente em relação à situação do
sistema de saúde,ao nível de renda, ao emprego e às condições de domicílios,
notadamente água e esgotamento sanitário. Tais aspectos mostram a complexidade
dos desafios que têm que ser enfrentados para a melhoria das condições de
saúde, que não se limitam ao sistema de saúde e abrangem desde as condições do
mercado det rabalho à disponibilidade de infra-estrutura social e do seu acesso
à população de baixa renda.
e)
Melhoria significativa dos padrões de saneamento e higidez ambiental – O
Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil mostra que em 2000 cerca de 58,7% dos
domicílios eram, no Nordeste, servido com água encanada e que, aproximadamente,
53% da população viviam de habitações com banheiro e água encanada. Os
percentuais encontrados para o Brasil eram, nestes casos, respectivamente,
80,8% e 77%. São, portanto, significativos os esforços e osrecursos que o poder
público deve mobilizar, nos próximos anos, para obtenção de 60padrões próximos
aos vigentes, hoje, no Brasil e nas suas regiões mais industrializadas.
f)
Redução do déficit habitacional – Estimativa recente
realizada pela Fundação João Pinheiro sobre o déficit habitacional no País
mostra que no Nordeste ele representaria, em 2000, cerca de 2,5 milhões de
habitações, das quais 1,5 milhão no meio urbano e cerca de um milhão no meio
rural. Essas cifras mostram a necessidade de mobilização de grandes somas de
recursos financeiros e de concepção de formas organizacionais e institucionais
adequadas para alcançar a população sem acesso à moradia, constituída, em sua
maior parte, por populações de baixo nível de renda.
4.4.
Desafios Sub-regionais
Vem-se constatando a
ocorrência de enfraquecimento dos laços de integração, nas diferentes esferas
da vida social e econômica. A crescente heterogeneidade espacial, na qual se
consolidam sub-regiões dotadas de grande dinamismo e sub-regiões atrasadas e
estagnadas, associada à presença de sub-regiões com intensa articulação com os
fluxos e as dinâmicas internacional e inter-regional, vem acentuando os
desafios, entre os quais, devem serdestacados os seguintes:
a) Os desafios do semi-árido
O semi-árido exige uma
atuação articulada em suas diferentes dimensões (econômica, sócio-cultural,
tecnológica e ambiental) e ao mesmo tempo a consideração de formas de sua
integração às demais sub-regiões nordestinas, fortalecendo complementaridades
tanto a partir das cadeias produtivas regionais, como dos arranjos produtivos
locais que se voltam para demandas regionais e nacionais. O que se almeja,
segundo o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Semi-Árido, é o conceito de
“Sustentabilidade Compartida”, que orienta e dá sentido ao desenvolvimento
sustentável do Semi-árido. Entende-se a “Sustentabilidade Compartida” como o compromisso
da Nação para com a sustentação das atividades humanas no Semi-árido, pensada
na perspectiva de um processo que não pode estar restrito aos limites dessa
região. Esse compromisso está em curso. Selado politicamente, ele implicará a
manutenção de fluxos líquidos de transferências à região, com o objetivo de
reduzir a pressão sobre os recursos locais, reconhecidamente frágeis e
limitados no tocante aos usos 61convencionais. Por isso, a convivência com a
semi-aridez constitui um dos pressupostos básicos da Estratégia”.
b)
Desafios da Zona da Mata
A reduzida diversificação da
atividade produtiva associada à grande dependência que a sub-região possui,
ainda, em relação à economia canavieira, não tem permitido a geração de emprego
e renda, de modo a reverter as taxas de desemprego e subemprego estrutural e
sazonal que caracterizam a sub-região. Agregue-se a isto a grande concentração
da propriedade rural, não obstante as seguidas intervenções que têm ocorrido
visando à reestruturação fundiária. Os desafios dizem respeito, entre outros
aspectos, à introdução de novos processos produtivos, à diversificação da
atividade econômica associada ou não à reforma agrária, à recuperação da
estrutura produtiva tradicional sob novas bases e os esforços voltados para a
recuperação dos rios e recursos hídricos em geral, constituem pontos relevantes
na discussão da superação dos desafios sub-regionais.
c)
Os Desafios do Cerrado
O grande desafio reside, de
um lado, em garantir através de oferta de infra-estrutura econômica a
continuidade do dinamismo, e, do outro, em redefinir as formas atuais de
produção reduzindo, significativamente, os impactos sobre o meio ambiente,
decorrentes dos processos produtivos que vêm sendo adotados há décadas.
d)
Os Desafio da Rede Urbana da Região
Neste particular, uma
proposta de desenvolvimento sustentável não pode deixar de considerar a
identificação das fragilidades da rede urbana e o fortalecimento de centros
intermediários a partir dos quais o processo de disseminação do desenvolvimento
no espaço regional possa ser consolidado.
4.5.
Desafios ambientais
a)
A redução e estancamento do processo de desertificação – A
superação deste processo envolve não só a mobilização da população e a difusão
do conhecimento a respeito da gravidade dos problemas, como a mudança radical
de processos produtivos e de práticas que vêm contribuindo para a aceleração do
processo de desertificação.
b)
Controle dos impactos negativos no meio ambiental nos grandes aglomerados urbanos – A
superação desse problema envolve não só a realização de intensos programas
voltados para o aumento da oferta de serviços de saneamento básico, mas a implantação
de legislação e formas de controle que reduzam os impactos negativos sobre o
meio ambiente.
c)
Redução dos impactos negativos sobre importantes ecossistemas –
Trata-se de um desafio que
exige uma atuação complexa, adequada a cada um dos ecossistemas, e dispersa em
vários espaços regionais.
4.6.
Considerações adicionais
O conjunto dos desafios
anteriormente considerados exige o tratamento simultâneo das diferentes
dimensões. No que se refere aos desafios, não se pode deixar de considerar como
um dos pontos centrais a ampliação da base produtiva regional, a superação do
lento crescimento e a perda gradativa de sua competitividade, do que vem
resultando o afastamento da produção regional de importantes faixas de mercado
internacional, inter-regional e interno à própria região. Neste particular, os
esforços deverão estar centrados na obtenção de um crescimento acelerado, na
modernização da estrutura regional e na busca de maior competitividade. Para
isto, os déficits atuais da infra-estrutura, sua inadequação aos novos
segmentos dinâmicos que vêm se consolidando, constituem ponto central do
esforço a ser desenvolvido no futuro imediato. Além disso, dificilmente estes
objetivos serão concretizados sem o concurso de um eficiente e articulado
sistema de produção e difusão de ciência e tecnologia, aliado à melhoria e
ampliação do sistema de educação na região.
Os
desafios apresentados pelas demais dimensões definem, também, condicionantes
para a forma como devem ser concebidas a ampliação da base econômica e a
modernização da estrutura da economia regional. A absorção da força de trabalho
regional, a inclusão social e a melhoria das condições de vida da população
definem, juntamente com os desafios ambientais, condicionamentos para o
desenvolvimento sustentável, que deverá ser definido na estratégia a ser
concebida.
5. Oportunidades de Desenvolvimento
Em contraposição aos grandes
problemas e obstáculos para seu desenvolvimento econômico e social, o Nordeste
possui, em suas diferentes dimensões, possibilidades e oportunidades que
poderão, no futuro imediato, constituir suporte para que seja consolidada uma
estratégia de desenvolvimento sustentável capaz de superar os grandes desafios
que foram anteriormente considerados.
5.1. Oportunidades econômicas
No que se refere à dimensão
econômica, os debates e estudos realizados recentemente têm assinalado aspectos
que não podem deixar de ser levados em conta nos cenários futuros da economia
regional. De um modo geral, a grande oportunidade está associada a atividades
dinâmicas e em expansão na economia regional e que podem desempenhar papel
relevante na articulação e integração de elos de importantes cadeias produtivas
que possam competir no mercado nacional e internacional:
a)
Disponibilidade de Incentivos Fiscais e Financeiros – Uma
das oportunidades que se apresentam para a promoção do desenvolvimento
econômico do Nordeste é existência de incentivos fiscais e financeiros para
alavancar a atração de investimentos para a Região. Do ponto de vista fiscal,
cabe ressaltar a presença dos “incentivos especiais” que permitem às empresas a
utilização de parcela do imposto de renda devido, para reinversão na região em
projetos de ampliação, modernização ou adequação de projetos industriais já
instalados no Nordeste, cuja vigência foi estendida até 2023, para os casos de
redução de até 75% do imposto a ser pago Ainda do ponto de vista fiscal,
enfatize-se a existência do Fundo de Investimentos do Nordeste – FINOR, cuja
vigência estende-se até 2013.
Sob
a ótica de mecanismos de financiamento de investimentos, destaque-se a
existência do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste - FDNE, a ser gerido pela
ADENE, a partir de recursos para esse fim consignados no Orçamento Geral da
União. As características do FDNE são especialmente adequadas ao financiamento
de projetos estruturantes de grande porte, inclusive aqueles voltados para
implantação de infra-estrutura. Outro mecanismo de grande importância é o Fundo
Constitucional de Financiamento do Nordeste – FNE, que é mais direcionado para
atender pequenos e médios produtores.
Aspectos importantes do FNE são a
estabilidade dos recursos, pela sua inscrição em dispositivo
constitucional, e a exigência legal da aplicação de metade dos seus recursos no
semi-árido nordestino.
b)
Existência de um Mercado Consumidor Regional – A
presença na região de um contingente populacional superior a 50 milhões de
habitantes dá a dimensão do mercado consumidor existente, pelo menos
potencialmente. O incremento de uma política compensatória de transferências
estáticas de renda para boa parte das populações pobres da região possibilitou,
no curto prazo, uma expansão significativa, ainda que não sustentável no longo
prazo, da demanda por consumo de bens de consumo não duráveis na região. A
sustentabilidade dessa demanda, assim como a mudança do seu perfil, será obtida
através da implantação da política de inclusão social produtiva e dos
investimentos estruturadores e apostas estratégicas propostas nessa versão para
discussão do PDNE.
c)
O surgimento e a consolidação de segmentos exportadores dinâmicos –
Neste caso, é importante considerar a presença cada vez maior, na pauta de
exportação regional, de produtos industriais, entre os quais vale o destaque
para a indústria de material de transporte (veículos), de papel e celulose, de
petroquímicos, de produtos da indústria têxtil e confecções, além de minerais,
de camarões, em vários Estados nordestinos, e de frutas tropicais, para fazer
referência a alguns exemplos; com presença ainda tímida, tais produtos vêm,
gradativamente, ganhando importância no total das exportações da região.
d)
A expansão e consolidação das atividades do pólo de turismo como fonte geradora
de renda, emprego e divisas – Mesmo em um contexto de
reduzido crescimento da economia regional, as atividades do turismo – tanto
formais como informais – vêm apresentando expansão considerável nos últimos
anos, associada em grande parte à infra-estrutura de hospedagem e de
aeroportos, que foi implantada nos últimos anos. O dinamismo dessas atividades
deu lugar, também, à expansão de atividades complementares, associadas ao
lazer, à alimentação e ao transporte, constituindo-se um importante complexo
difundido em quase todos os estados nordestinos.
e)
Consolidação do terciário moderno e de pólos dinâmicos de serviços –
Tem-se desenvolvido no Nordeste um
importante conjunto de atividades terciárias dotadas de maior dinamismo, com
uma grande capacidade de geração de emprego e renda. Neste particular, cabe
mencionar as cadeias produtivas concentradas no varejo moderno, nos serviços
médicos, nos serviços voltados para a educação, nos de tecnologia da
informação, nos serviços de logística, nos serviços de assessoria, consultoria
e planejamento. Tais serviços não só são responsáveis pelo geração de parcela
importante dos empregos formais na região, como se têm mostrado dinâmicos, num
contexto em que a economia regional registrou, em média, crescimento muito
reduzido.
f)
A expansão e consolidação de conjunto complexo de atividades vinculadas à
moderna produção agrícola irrigada – Em diversos Estados
nordestinos, nas últimas décadas, vêm consolidando-se cadeias produtivas
vinculadas à agricultura irrigada, que compreendem, além de atividades
industriais de beneficiamento dessa produção, os serviços modernos de
comercialização, voltados tanto para o mercado externo como para o mercado
interno.
g)
A existência de significativos pólos industriais voltados tanto para o comércio
internacional como o regional e inter-regional –
Tais atividades, associadas à produção de químicos, petroquímicos, veículos,
têxteis, mineração, papel e celulose, beneficiamento de grãos e produção de
vinho, podem, no futuro imediato, ser complementadas através de ações
específicas, voltadas para a implantação dos elos faltantes considerados
significativos nas suas cadeias produtivas. Vale destacar, a partir de
negociações recentes, a implantação de uma nova refinaria e de um estaleiro que
seguramente reforçarão a consolidação das novas atividades que estão surgindo
na região.
h) O surgimento e expansão
da produção de grãos e seu beneficiamento nas áreas de fronteira agrícola – As
atividades produtoras de grãos, voltadas tanto para o mercado interno como para
a exportação, que se estendem por vários Estados nordestinos, deverão no futuro
imediato expandir-se e constituir-se núcleos de cadeias produtivas bem mais
complexas, atraindoatividades industriais e serviços no interior da região.
i)
A Existência de uma Indústria Cultural e de Entretenimento –
Outra oportunidade presente para a promoção do desenvolvimento regional é a
existência de uma crescente indústria cultural e de entretenimento, fortemente
moldada na identidade regional expressa pela população nordestina. Com efeito,
acultura nordestina tem-se apresentado como um produto de significativo valor
comercial, pela sua riqueza e singularidade, que começam a ser reconhecidas e
valorizadas, tanto nacional quanto internacionalmente. Por outro lado, a
indústria do entretenimento encontra uma fonte importante de alavancagem no
crescente aproveitamento do potencial turístico da região. Políticas de
fortalecimento da marca e do destino Nordeste podem contribuir fortemente para
a geração de renda e emprego para a população nordestina, sem a exigência de
investimentos de grande vulto para a sua concretização.
j)
A Existência de Infra-estrutura capaz de responder ao aumento da Produção – O
esforço de promoção da industrialização realizado no Nordeste nas décadas de 60
e 70 não descuidou da implantação de uma base de infra-estrutura que
viabilizasse esse processo. Assim sendo, a região dispõe de uma razoável base
de infra-estrutura e logística para suportar o seu processo de desenvolvimento.
A malha rodoviária dispõe de considerável capilaridade, não sendo as suas
deficiências diferentes daquelas encontradas no restante do País. Os
equipamentos aeroportuários e portuários vêm sendo ampliados e modernizados
para atender às necessidades da economia, com destaque para os aeroportos de
Recife, Salvador e de muitos aeroportos de função regional, assim como para os
portos de Suape e Pécem. A implantação
da Ferrovia Transnordestina, do Corredor Multimodal do São Francisco e a
duplicação da BR-101 constituem importante expansão da infraestrutura de transporte,
sendo que o virtual esgotamento das possibilidades de geração de energia a
partir de fontes hídricas constitui o principal desafio a ser superado em
termos de suporte infra-estrutural para o crescimento da economia regional.
5.2. Oportunidades tecnológicas
Mesmo
levando em conta a fragilidade do sistema de ciência e tecnologia e a sua falta
de articulação com o setor produtivo, existe competência instalada, além de
pesquisas e propostas que, trabalhadas e difundidas, podem resultar em apoio
significativo no processo de modernização da economia regional e fortalecimento
desses segmentos dinâmicos. Assim, no que se refere às oportunidades presentes
na região na área de ciência e tecnologia, vele lembrar, entre outras, as
seguintes:
a)
O potencial existente no sistema de produção de ciência e tecnologia –
Sobretudo no que se refere aos recursos humanos (e, em alguns áreas
específicas, às instalações e equipamentos), já existe na região um sistema
produtor de ciência e tecnologia, não obstante as suas limitações, diante dos
problemas que estão a exigir soluções nesta área. Além disso, como se fez
referência, ocorre uma desarticulação entre tal sistema e os segmentos
produtivos que demandam e necessitam de tais conhecimentos. Para se ter uma
idéia desse potencial, é importante levar em conta que, de acordo com o CNPq,
estavam registrados 6,2 mil doutores pesquisadores no Nordeste. Além disso, do
total de doutores (número de doutores pesquisadores cadastrados, segundo os
totais de cada região) em 2004 no Brasil, cerca de 13,9% estavam no Nordeste,
enquanto o Sudeste registrava 55,5%, o Sul 20,5%, o Centro-Oeste 6,9% e o Norte
3,2%. Vale ressaltar que o total de investimento por doutor pesquisador não
guarda grande diferença entre as regiões, no entanto quando se considera a
população a diferença é marcante: no Nordeste, a relação entre pesquisador e
população é de aproximadamente 126 pesquisadores por um milhão de habitantes,
enquanto no Norte é de 106, no Sudeste 330, no Sul 353 e no Centro-Oeste 252.
b)
A crescente consciência dos setores público e privado da importância da ciência
e tecnologia – No que se refere ao setor público, existem
políticas específicas, tanto no nível federal como no estadual, em algumas
unidades da Federação, além da clareza de que a sustentabilidade do
desenvolvimento econômico e social não pode ser obtida sem a estreita relação
dos segmentos produtivos com o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Com
relação ao setor privado, há a consciência cada vez maior de que o
desenvolvimento científico e tecnológico é uma ferramenta fundamental no
processo competitivo e na consolidação das atividades econômicas, num contexto
de crescente integração nacional e internacional.
c)
A existência de Centros de Pesquisa Avançada na região – A
existência de centros de pesquisa avançada na região, a exemplo do de
nanotecnologia em Pernambuco e os centros de pesquisa da EMBRAPA (extremamente
relevantes para o semi-árido), constitui elementos nucleadores para formatação
na região do chamado setor produtivo do futuro, calcado na “economia do
conhecimento”. Além disso, assinale-se a presença de considerável massa crítica
nesses centros, a qual vem sendo constantemente ampliada pela ação de
organismos federais e estaduais. A conjunção desses fatores representa o
embrião de um ambiente industrial baseado na inovação e na cooperação como
propugnado nessa proposta.
d)
Os Fundos Setoriais de Financiamento de Ciência e Tecnologia – Os
Fundos Setoriais de Financiamento de Ciência e Tecnologia representam grande
oportunidade para o desenvolvimento tecnológico da região, dado que constituem
recursos estáveis, com destinação específica, e exigência legal de aplicação de
parcela mínima na Região. Vale salientar que o Nordeste não tem conseguido
gerar projetos suficientes para aplicação da parcela que lhe é destinada por
lei, ou seja, a região já tem legalmente assegurados os recursos necessários à
ampliação da sua capacidade de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), podendo
valer-se dos mesmos para ampliar a sua capacidade de inovação e a qualificação
dos seus recursos humanos.
5.3. Oportunidades sociais
Não obstante a existência de
grandes desafios sociais, estão cada vez mais presentes, na região,
oportunidades e potencialidades sociais que devem ser consideradas na montagem
de uma estratégica consistente de desenvolvimento econômico e social:
a)
Os avanços ocorridos na difusão de serviços sociais básicos – Apesar
de os indicadores sociais nordestinos serem, sem dúvida, mais baixos no
contexto das regiões brasileiras, não se pode deixar de levar em conta os
avanços ocorridos nos indicadores referentes à educação, mortalidade infantil e
ampliação da cobertura em medicina preventiva. Isso ocorreu num contexto de uma
economia regional praticamente estagnada e de uma crise fiscal e financeira do
setor público, nas últimas décadas, e resultou de uma maior participação da
população na definição dos gastos públicos, nas diferentes esferas de governo.
A consolidação do processo democrático na última década seguramente está
associada a estes avanços, mesmo num contexto adverso.
b)
O potencial político e a identidade regional – Tais
potencialidades têm sua tradução, sobretudo, na representação da região no
Congresso Nacional, na qual existem algumas lideranças com estreita vinculação
com os interesses mais amplos da região. Some-se a isto, a identidade regional
do Nordeste que, embora enfraquecida pelas disputas estaduais, expressa-se
ainda no fato de a cultura regional constituir-se elemento fundamental no
sentido de agregar e impulsionar processos de mobilização social e política.
c)
A Distribuição da Pirâmide Etária do Nordeste – A
região conta com uma maior participação de jovens no total da sua população do
que aquela encontrada para o País como um todo. Tal constatação representa uma
oportunidade, na medida em que as camadas mais jovens da população tendem a
apresentar maior potencial para a qualificação e requalificação, por se
encontrar no ápice de sua capacidade cognitiva, e menor grau de resistência a
mudanças estruturais, pelo fato de que seus valores e projetos de vida não se
encontram ainda totalmente formados e cristalizados. Por outro lado, as camadas
mais jovens da população apresentam maior propensão ao empreendedorismo,
elemento indispensável à promoção do crescimento econômico.
5.4. Oportunidades das sub-regiões
As oportunidades e
potencialidades mais relevantes para uma proposta de desenvolvimento
sustentável devem enfatizar o fato de que a grande diversidade regional – da
perspectiva econômica, social, cultural e política – pode constituir vantagens
significativas,entre as quais se destacam:
a)
Existência de três Regiões Metropolitanas – A Região Nordeste
conta com três Regiões Metropolitanas (Salvador, Recife e Fortaleza), capazes
de estruturar o espaço em suas áreas de influência, a partir das quais se
conforma toda uma rede de cidades, incluindo aglomerados urbanos de diferentes
portes. As regiões metropolitanas dão à região o suporte de serviços urbanos de
toda sorte (saúde, educação, lazer etc) que apóiam o desenvolvimento de sua
economia. É também a partir das regiões metropolitanas que se dá, em grande parte, a articulação do
espaço nordestino com a rede de cidades do País como um todo, especialmente com
as metrópoles de nível nacional, o que contribui para integrar funcionalmente
os espaços regional e nacional.
b)
Inconformismo regional e nacional com as condições econômicas e sociais de
parte significativa da população regional, notadamente do Semi-árido –
Há atualmente um reconhecimento de que as políticas e propostas até agora
implantadas foram inadequadas ou insuficientes para a melhoria significativa
das condições de vida da população nordestina, e de que é imprescindível que
ocorram transformações econômicas e sociais. Isso tem gerado uma avaliação
crítica das propostas que são apresentadas e a exigência de uma discussão
profunda e conseqüente dos programas, projetos e obras que são apresentadas
como soluções para os problemas sub-regionais.
c)
Disponibilidade atual de conhecimento científico e tecnológico sobre as
sub-regiões nordestinas – Estão disponíveis – nos centros de
pesquisa, nas universidades e em algumas unidades produtivas – conhecimentos
sobre as sub-regiões nordestinas, notadamente a Zona da Mata, os Cerrados e o
Semi-árido, que permitem encaminhamento de algumas soluções importantes para
vários dos seus problemas associados à atividade produtiva, à disponibilidade
dos recursos hídricos e aos procedimentos necessários à preservação do meio
ambiente. A difusão de tais conhecimentos e seu aprofundamento poderão, no
futuro imediato, constituir apoio imprescindível para os avanços e mudanças
próprias de uma estratégia de desenvolvimento sustentável;
d)
Disponibilidade de recursos naturais, de infra-estrutura e condições favoráveis
de proximidade do mercado da Zona da Mata – Não obstante o
baixo nível de vida da população residente na Zona da Mata, além do
conhecimento que se tem sobre suas potencialidades naturais, há uma grande
disponibilidade de infra-estrutura econômica (transporte, portos, aeroportos,
energia) na sub-região ou próxima a ela, que pode ser utilizada plenamente para
o seu desenvolvimento. Por outro lado, caber registrar, também, que a sua
proximidade em relação aos grandes aglomerados urbanos e em relação aos
mercados da região constitui uma vantagem local e nacional da maior relevância
para o seu desenvolvimento futuro.
e)
O dinamismo e o grande potencial dos Cerrados –
Apesar de não dispor, ainda, da infra-estrutura econômica necessária para
incremento e escoamento da sua produção, notadamente no que se refere aos
grãos, é importante considerar a expansão recente do dinamismo econômico da
sub-região, não só na produção agrícola como na montagem de uma moderna
agroindústria voltada para a exportação e para os mercados internos. A
articulação, com o restante do Nordeste, de uma ampla sub-região que compreende
o oeste baiano e parte importante do Piauí e Maranhão, através de
infra-estrutura de transporte, poderá dar lugar ao surgimento de importantes
segmentos produtivos capazes de reverter o reduzido dinamismo e a grande
instabilidade atual da agropecuária nordestina.
5.5.
Oportunidades ambientais
No que se refere às
oportunidades e potencialidades associadas à dimensão ambiental, vale
considerar, entre outras, as seguintes:
a)
A crescente consciência ambiental – Tal consciência, de âmbito
mundial, vem-se difundindo em toda região e está associada, em grande parte, à
adoção, por parte de parcela relevante da opinião pública nacional e
internacional, de valores voltados para preservação e conservação do meio
ambiente. É importante considerar, nas discussões internacionais recentes, os
temas relevantes do Protocolo de Kioto, ao qual estão associados formas e
mecanismos capazes de constituir estímulo fundamental a iniciativas voltadas
para a sustentabilidade do desenvolvimento nacional e regional.
b)
Educação ambiental – Tanto através dos meios de divulgação como
do sistema educacional estão cada vez mais presentes na região conhecimentos e
informações que consolidam, junto à população, sobretudo mais jovem, postura de
respeito ao meio ambiente e à adoção de práticas que visam à preservação
ambiental.
c)
Legislação e sistema de controle ambiental - Os sistemas de
controle ambiental, embora ainda frágeis, estão presentes e atuantes em muitas
das unidades da federação, constituindo-se, em muitos casos, referencial que
condiciona a natureza e os procedimentos de projetos produtivos.
d)
Crédito de Carbono – Estimativas consideram que o mercado mundial
de crédito de carbono pode atingir US$ 13 bilhões de dólares nos próximos anos,
possível de aproveitamento pelo Nordeste.
e)
Biomassa – A geração de energia a partir de biomassa pode
contribuir expressivamente para a superação das limitações de disponibilidade
de energia no Nordeste. Além disso, representa importante oportunidade para a
recuperação da indústria sucro-alcooleira da Zona da Mata, bem como se constitui
uma oportunidade ímpar de afirmação do País no mercado internacional de energia
de fontes de energia renováveis, sobretudo no que diz respeito à produção de
álcool combustível. No semi-árido, a geração de bio-combustíveis a partir de
mamona e outros cultivares adaptados às condições edafo-climáticas daquele
espaço pode proporcionar incremento significativo da disponibilização de renda
e trabalho para as populações locais.
Referências
Bibliográficas
- ANTONIL, André
João. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Editora Itatiaia, 1977.
- BENCI, J. Economia
cristã dos senhores no governo dos escravos. São Paulo: Grijalbo,1977.
PLANO ESTRATÉGICO DE
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO NORDESTE
. Desafios e Possibilidades para o Nordeste do Século XXI - VERSÃO PARA
DISCUSSÃO. RECIFE, ABRIL DE 2006.
- LINS,
A. M. M. Educação moderna: contradições entre o projeto civilizatório
burguês e as lições do capital. São Paulo: Autores Associados, 2003.
- Decreto nº6.872, de 4 de
junho de 2009. Aprova o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial –
PLANAPIR.
-
ROCHA, Luiz Carlos Paixão, Políticas afirmativas e educação: a Lei 10.639/03 no
contexto das políticas educacionais no Brasil contemporâneo. 2006. Tese de
mestrado.
*Teólogo, filósofo.
Coordenador de Formação do Fórum da Economia do Negro, Membro efetivo e
secretário da Comissão Cearense de Folclore, coordenador da Associação Nação
Iracema, Pesquisador de quilombo no Estado do Ceará. Militante do Movimento
Negro Organizado.
[1]
Decreto nº6.872, de 4 de junho de 2009. Aprova o
Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial - PLANAPIR, e institui o seu
Comitê de articulação e Monitoramento.
|
|
[2] Discurso da Ministra Luiza Bairros. Proferido
na cerimônia de transmissão do cargo de Ministro Chefe de Estado da Secretaria
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial 03/01/2011.
[3]
Sepre-Ipea-Inae-Iica. Nordeste: Uma Estratégia para Vencer o Desafio da Seca e
Acelerar o Desenvolvimento. Sudene 40 Anos. Sudene. Brasília. 1999.
Albuquerque, Roberto Cavalcanti de. Nordeste: Sugestões para uma Estratégia de
Desenvolvimento. Banco do Nordeste. Fortaleza. 2002.
[4]
Por grau de informalidade entende-se a relação entre o contingente das pessoas
ocupadas com base em relações informais de trabalho e o total das pessoas
ocupadas.
[5]
Sudene-Dieese. As Grandes Tendências da Economia e do Mercado de Trabalho no
Nordeste nas Duas Últimas Décadas. Recife. 1998. Leonardo Guimarães Neto. As
Economias Regionais e o Mercado de Trabalho nos anos de 1990. In: Anita Kohn
(organizadora) Unidade e Fragmentação – A Questão Regional no Brasil.Editora
Perspectiva. São Paulo. 2002.
[6] O analfabetismo funcional, é definido pelo
IBGE, de acordo com a UNESCO, como a população que tem menos de 4 anos de
estudos – pois se considera que o processo de alfabetização somente se
consolida, de fato, entre as pessoas que completaram a 4ª série, em razão das
altas taxas de regressão ao analfabetismo entre os que não concluíram tal nível
de ensino –.
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