segunda-feira, 11 de março de 2013

Celular ganha espaço no dia a dia das crianças



Seis em cada dez pais afirmam ter comprado dispositivos móveis para seus filhos pré-adolescentes

A cearense Maria Irene enfrenta os desafios de lidar com a relação de seu filho Ravy Gomes, de 9 anos, com o aparelho celular Foto: Kelly Freitas


Acordar ao som do despertador, levar os filhos para a escola, deixá-los no reforço, liberar para um passeio ou até mesmo para uma visita na casa de outros familiares. Diante das atividades diárias, os pais precisam de um meio de comunicação que facilite o contato com as crianças, e muitos deles têm optado pelo celular. O aparelho móvel apresenta-se como uma ferramenta útil, tanto para o controle por parte dos pais como para o entretenimento das crianças. Mas como equilibrar essa relação sem grandes perdas para nenhuma das partes?
Uma pesquisa realizada pela National Consumers League, organização norte-americana que defende os direitos do consumidor, aponta que seis em cada dez pais afirmam ter comprado dispositivos móveis para seus filhos pré-adolescentes. Aqui no Brasil, onde a realidade não é tão diferente, a cabeleireira cearense Maria Irene Gomes da Silva é um exemplo. Seu filho, José Ravy Gomes Mesquita, acaba de completar nove anos e Irene já perdeu as contas de quantos celulares o garoto já teve. "Desde sete anos que a gente troca celular para ele", afirma.

Segundo Irene, a primeira compra de aparelho foi para suprir uma necessidade de falar com o filho na volta da escola. "Geralmente ele liga para dar uma certeza de quem vai buscar no colégio, ou eu ou o pai". Hoje, a preocupação é redobrada. "Em qualquer canto que ele não está perto de mim, eu sempre ligo por causa dessas coisas ruins que a gente vê", admite.

Monitorar a localização do filho é a principal vantagem apontada pelos pais. No entanto, outros atrativos são levados em consideração na hora de comprar o aparelho. Internet e bastante espaço para jogos e músicas são uma das exigências dos pré-adolescentes. A partir da pesquisa da National Consumers League, algumas perguntas foram estabelecidas para facilitar o trabalho dos pais na hora da compra. Por que seu filho precisa de um telefone? Quanto você pretende gastar por mês com o serviço? Quais as políticas da escola com relação ao uso do aparelho? Com as respostas a essas questões, é possível escolher um dispositivo que evite preocupações.

Desvantagens e soluções

 para as crianças com o uso do celular é a conexão com a internet, segundo Mariano Sumrell, diretor de marketing da AVG Technologies no Brasil, empresa que oferece soluções de segurança na web. "Elas ficam expostas a várias ameaças como conteúdo impróprio para menores e criminosos que costumam abordar as crianças nas redes sociais", diz Sumrell. Por outro lado, "contatar a criança e vice-versa, a qualquer momento, passa uma segurança maior", reconhece o executivo da AVG.

No caso de Ravy, os jogos representam a principal vantagem em ter um aparelho celular. "A desvantagem é porque o Ravy é muito desatento no colégio e atrapalha muito se ele vê qualquer coisa relacionada a jogo. Ele esquece de tudo e foca só nisso", explica Irene. Já o garoto não vê grandes problemas. "Às vezes, minha mãe briga para eu prestar mais atenção. Mas acho que não atrapalha", diz.

Para a psicóloga e psicopedagoga Lina de Gil, é preciso estabelecer limites. "O mundo hoje é progressivamente virtual, mas é necessário que a criança participe de grupos, converse, tenha amigos no mundo real e não só no virtual", afirma. O excesso de tempo gasto com o celular também é um fator preocupante. Nesse sentido, a psicopedagoga recomenda uma aliança entre pais e educadores. "Uma orientação da escola e dos pais é sempre melhor do que punir", diz.

Segundo Lina, é importante que o investimento em tecnologias realizado no âmbito educacional não comprometa o rendimento do aluno. "Como as crianças podem utilizar isso em seu benefício? É nisso que se deve focar. E as escolas devem facilitar esse processo", orienta.

Controle de privacidade

Os conselhos dos pais ecoam na cabeça dos filhos diariamente. Mas até que ponto isso afeta a privacidade dos jovens? Para Sumrell, o controle é necessário. "Crianças pequenas podem e devem ser monitoradas. Agora, o importante é que os pais expliquem isso para elas e que seja mantida a relação de confiança entre pais e filhos", afirma.

No caso de Ravy, a comunicação com a mãe não é um problema. "Ele não esconde nada de mim, porque a gente conversa muito. Ainda assim, eu vou ficar sempre observando, só que com cautela, para não invadir a privacidade dele", conta Irene.

Mesmo diante de alguns impasses, a psicóloga Lina de Gil reconhece que o celular se tornou uma ferramenta fundamental para o contato entre pais e filhos. "Eles fazem parte da vida da maioria da população, e entre crianças e adolescentes não podia ser diferente", conclui. 

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1240829

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