Na semana passada tive a oportunidade de estar em dois festivais de artes cênicas próximos a Uberlândia, a Mostra Internacional de Goiânia, em sua 11ª edição, e o Festival Sesi de Araxá, que completou 22 anos ininterruptos. O que isso tem a ver com a nossa cidade? Muito. É um parâmetro de como pode funcionar na região um evento de potencialidades turísticas e que promova também o desenvolvimento artístico-cultural da população. Em ambos os casos ficam evidentes os riscos que existem na instalação e perpetuação de um projeto cultural sem o envolvimento e cumplicidade dos artistas locais.
Em Goiânia, capital mais próxima de nós, a situação era tensa. O evento foi realizado sob os protestos de alguns grupos inconformados com o escândalo político-financeiro do ano anterior, que gerou o afastamento do secretário de cultura da cidade. Sem os aportes e parcerias existentes antes, o evento, que em alguns anos alcançou o patamar de um dos principais do país, foi realizado “na raça”, apenas para cumprir o protocolo de sua periodicidade anual e não dar brecha à possibilidade de ser extinto. Embora uma atitude nobre, tal esforço acabou por servir também como pretexto para deslizes de organização e, pior, a ausência do público ao qual se destina.
Em Araxá, ao contrário, o evento mantém o sustentáculo existente desde sua forma embrionária e se consolida na estrutura de uma forte entidade patronal. Em seus anos iniciais, o festival era pensado e gerido por artistas e produtores da cidade. Na busca pela profissionalização, uma companhia teatral de Belo Horizonte hoje é que realiza a curadoria e coordenação do evento.
Em Goiânia, capital com mais de dois milhões de habitantes e repleta de espaços culturais bastante prestigiados pela população, a abertura, com o Grupo Elenco, de Uberlândia, aconteceu no suntuoso Teatro Goiânia, um prédio sexagenário com capacidade para quase 1000 espectadores, mas cuja exuberância da fachada foi apagada pelos refletores desligados e por pichações que seriam facilmente removidas. Um banner oficial do evento também daria mais consistência à abertura.
Na pequena Araxá, no também pequeno teatro Sesi, as atrizes Drica Moraes e Mariana Lima abriram o projeto, em sessão exclusiva para convidados, plateia formada por empresários e autoridades políticas. A programação prosseguiu por outros espaços, incluindo aí o novo teatro municipal. Erguido em 18 meses, no centro da cidade, o novo teatro, de arquitetura moderna e imponente, se coloca como promessa de mais uma atração turística para Araxá.
Entre as duas, estamos nós. 350 quilômetros nos separam da capital Goiânia e 180 da mineira cidade turística. Não dialogamos muito com nenhum destes dois eventos. Mas, que eles nos sirvam de exemplos. Apesar de tudo, são festas artísticas que promovem o turismo e o desenvolvimento cultural das cidades.
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